março 26, 2013

[Resenha] Ler, Viver e Amar – Jennifer Kaufman, Karen Mack

Dora cura a sua tristeza lendo – às vezes por dias consecutivos. Separada pela segunda vez, sua vida se resume a ficar na banheira com vinho e livros – de Tolstoi a Mark Twain, de Flaubert a Jane Austen. Best-seller e livro cult na Costa Oeste americana mostra como a boa literatura pode ser reconfortante e um chave contra os momentos mais difíceis da vida. Tudo isso tendo como cenário a luxuosa Los Angeles, suas lojas, paisagens e ruas que moram no imaginário dos amantes de cinema e dos seriados de TV. “O telefone tocou. – Já pode falar? – Era o Fred. Ele é lindo. Engraçado. Fácil de levar. Eu rio. Ele ri. Ele quer me ver… Hoje à noite. Um encontro de verdade em uma espelunca onde se toca jazz com, espero, algum tipo de bebida alcoólica. Parece divertido. Bem, como disse uma vez Edith Wharton, “se apenas parássemos de tentar ser felizes, nós poderíamos nos divertir um bocado”.”

Editora: Casa das Palavras l 320 Páginas l Chick-Lit (Com conteúdo adulto) l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 4/5

 

É fato que para os amantes de livros toda a obra que envolve o universo literário é um deleite para os olhos. Só de imaginar a união de duas grandes paixões, a leitura e a mágica existente em cada página de um livro, ficamos entorpecidos pela curiosidade, ansiosos por mergulhar em um mundo novo que traduza em palavras, ou pelo menos tente, o amor que nutrimos pelos livros. Foi esse encanto que me levou a ler o romance ‘Ler, viver e Amar’; como uma leitora assídua é assim que levo a minha vida, vivendo cada dia a base de fé, amor e livros, então, como não se identificar com uma mulher apaixonada pela literatura, que além de apreciar cada obra de forma única, encontra nos livros um consolo e abrigo conhecido e utilizado apenas pelos mais apaixonados leitores?

“Tenho essa fantasia sobre um clube do livro em minha mente, onde outras pessoas se sentem tão apaixonadas como eu me sinto com relação à leitura. Como se fosse um beijo realmente bom. O prazer diáfano e a intimidade de ter um relacionamento com um romancista e todas as personagens é transcendental – até mesmo sensual. Determinadas passagens continuam repercutindo em minha cabeça muito tempo depois que já fechei o livro, e muitas vezes mal consigo esperar para voltar à história, como se fosse um amante secreto.”

Dora, com seu status de ‘mulher madura’, está passando por vários conflitos; além da sombra de sua idade, ela enfrenta problemas como uma recente separação, tentativas frustradas de retornar ao mercado de trabalho, uma escassa vida social, e, se já não fosse suficiente, problemas familiares do passado que teimam em afligi-la.  Tais dúvidas e problemas são tipicamente femininos, é normal conhecermos alguém na mesma situação de Dora, ou até mesmo nos equipararmos com ela, compartilhando de suas aflições. Contudo é a maneira como ela lida com tudo isso que faz dela um caso especial; enquanto algumas mulheres saem para beber com as amigas ou vão fazer compras, ela mergulha em uma ressaca literária, escolhendo obras de acordo com seu humor, tomando um longo e demorado banho de banheira, lendo, bebendo e esquecendo-se do mundo. Essas reclusões tendem a durar dias, de forma que esses tempos de solidão e confinamento, para Dora, representam sua salvação perante o precipício em que se encontra.


Entre muitas citações literárias, vários conflitos familiares, um flerte ‘quente’ iniciado em uma livraria e várias ressacas literárias, Dora abre seu coração apresentando todo o que é; revelando desde a mulher decidida e sensual e a inteligente e rata de biblioteca, até a romântica e insegura Dora que busca o que todas nós queremos, uma sensação de unidade, de encontrar seu lugar no mundo, de simplesmente amar e ser amada, com ou sem defeitos.


Meu envolvimento total com a obra foi quase que imediato. Mesmo vivendo uma fase diferente (digo no quesito idade) da Dora, foi impossível não mergulhar nos sentimentos da protagonista, principalmente porque sei como é fazer dos livros uma fuga constante. Assim como Dora também tive meu momento em que a vida nos livros era muito mais interessante do que a fora deles, e fechada para o mundo, tentando evitar pensar nos meus problemas, me envolvia com os livros a ponto de esquecer o que me aguardava longe deles. O fato é que todos os problemas da protagonista foram causados por sua personalidade, pelo medo que a acompanha e reflete o seu passado, entretanto para quem lê é óbvio que Dora evita viver e experimentar tudo o que pode machucá-la com medo das decepções futuras, e por isso se refugia nos livros, para evitar tais confrontos com a realidade. Sendo assim, como não se envolver com sua rotina? Como não pensar o quanto de comum temos com ela, afinal, quantos de nós já utilizamos um livro como uma bem vinda válvula de escape?

“Todas as melhores histórias do mundo, na realidade, nada mais são do que uma única história, a história da fuga. É a única coisa que nos interessa a todos e todo o tempo: como fugir. Arthur Christopher Benson (1862-1925).” 

Essa sensação de compreensão do universo literário é a grande sacada do romance, – a forma real como o vício por livros é exposta no decorrer da narrativa. Acrescentado a isso, temos várias citações literárias, constantes trechos e menções de obras que fazem parte da vida de Dora, e confesso, tive que me segurar para não sair pesquisando tais histórias a cada momento em que uma delas era mencionada, é tentador o impulso de buscar compreender ainda mais sobre tais universos literários. Entretanto, tantas citações quebram o ritmo do livro. Em certas circunstâncias lemos sobre a vida de Dora, sobre seus problemas, sua necessidade de superação dos seus traumas e medos, então ela começa a lembrar de um livro que poderia se encaixar em tal momento, e divagando sobre ele, faz constantes paralelos entre presente e passado, mudanças temporais que nem sempre são passíveis de percepção lógica por parte do leitor. Claro que as citações são a graça do livro, mas de certa forma, senti que as autoras quiseram salientar tanto a grandeza literária do romance, que acabaram divagando sobre seus gostos e preferências literárias.

Exatamente por isso, o único ponto negativo da história talvez seja a escrita das autoras. O livro tem tudo para ser ótimo, um bom enredo, um romance gostoso, e uma protagonista azarada e de certa maneira, bem humorada. Não consegui largar o livro, mas a condução dele me desagradou em alguns momentos, senti certa incompatibilidade na narrativa proposta, e as divagações momentâneas colaboraram com esse sentimento. Por esse motivo o início do livro chega a ser cansativo; acredito que como em qualquer outra obra precisamos nos adequar a escrita das autoras para que a leitura possa engrenar, fator que ocorre quando o romance aparece, tornando quase, veja bem eu disse quase, possível esquecer as idas e vindas desnecessárias da narrativa. Vale salientar que esse não foi um ponto excessivamente desagradável, ou seja, ela não chegou a diminuir meu encanto com a história, mas sinto que com isso, um livro cinco estrelas acabou com uma nota entre  3,5 ou 4.

De qualquer maneira, indico o livro para os amantes de leitura e para os que gostam de Chick-Lits mais maduros, com problemas necessariamente adultos e com momentos para lá de sensuais.  Tal romance faz parte do Desafio Fuxicando Sobre Chick-Lits, e foi minha escolha para o mês de março, com o tema de ‘mulheres independentes’. Para saber mais e ver como participar, clique aqui.

Quotes Preferidos

“Eu coleciono livros da mesma forma que minhas amigas compram bolsas de grife. Às vezes, só gosto de saber que os tenho e lê-los de fato não vem ao caso. Não que eu não termine lendo-os todos, um por um. Eu os leio. Mas o mero ato de comprá-los me deixa alegre – o mundo é mais promissor, mais satisfatório. É difícil explicar, mas eu me sinto, de alguma forma, mais otimista.  A totalidade do ato simplesmente me faz feliz”.

“(…) Os adoradores de livro vêm em seguida. Eles mantêm seus livros cobertos (e não porque são romances), usam marcadores de página e absolutamente nunca deixam o livro tocar o chão. Eles olham para o livro como se fosse um ser com sentimentos, um objeto de desejo vivo, que respira, que precisa ser tratado com absoluto respeito. Eles leem cada palavra, até mesmo as notas de pé da página.”

“Entretanto, depois de tudo o que me aconteceu nesse ano que passou, cheguei à conclusão de que para mim a leitura não é puramente uma válvula de escape. É mais uma busca por algum tipo de significado para esse mundo. Agora, quando leio, penso que posso abrir qualquer página e encontrar a verdade. Eu simplesmente não consigo suportar a névoa do não saber. (…) As respostas estão lá. Em algum lugar. Cada autor tem sua própria visão, seja ela transformadora, enervante, inspiradora ou devastadora.”

“Outras vezes é sintomático do meu estado psicológico: tédio até o último fio de cabelo, minha vida que vai mal, e aquele sentimento de medo sempre que me perguntam o que ando fazendo. Como alguém pode colocar todas essas coisas em ordem? Levando tudo em consideração, prefiro ler. É a fuga perfeita.”

Capas pelo Mundo:

 

 

Beijos!

 

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8 Comentários

  • Vanessa Assumpção
    22 maio, 2013

    Oi! Adorei a resenha! Ouvi a Aione falar desse livro, já quis ler… aí acabei aqui pra ver a resenha e curti mais ainda! Quero já! Acho que vou gostar muito.
    Um beijo, Van – http://leitura-emfoco.blogspot.com

  • Mirelle Candeloro
    29 março, 2013

    Adorei a dica de leitura Pah. Nunca tinha ouvido falar desse livro e como já comentei antes, acho o máximo os livros que fazem um paralelo com o universo literário preenchendo a vida do protagonista com outras obras. Mas também imagino que isso deva ser sim um pouco cansativo, como você comentou. De qualquer forma, fiquei mega curiosa e com vontade de ler. Bjs, Mi

    http://www.recantodami.com

  • Tânia Silva
    27 março, 2013

    Oi Pah
    Engraçado esta semana peguei este livro na mão, mas não me chamou a atenção, sua resenha me deixou curiosa, mas não a ponto começar a leitura… quem sabe daqui algum tempo o interesse desperta.

    Suas resenhas sempre ótimas, não é a toa que me fez reconsiderar uma possível leitura.

    BEIJOSS!!!!

  • Rayane
    26 março, 2013

    Tenho muita curiosidade sobre este livro, desde que li a 1ª quote que vc selecionou eu sabia que precisava conhecer esta história, afinal eu sou assim…

    No entanto, quando fui marcar o livro no skoob me surgiu uma dúvida: Ler, Viver e Amar e Ler, Viver e Amar em Los Angeles são livros diferentes ou edições diferentes de um mesmo livro?

  • Oi,Pah.

    Confesso que não faz meu estilo de leitura, mas posso até dá uma chance porque sua resenha ficou ótima adorei meus parabéns.

    Beijos e até o próximo post!
    Lu Apaixonada por Romances

  • Aione Simoes
    26 março, 2013

    Oi gêmea!
    Uma pena que a própria narrativa seja um "problema" em partes da história, entendo completamente como esses paralelos podem quebrar o ritmo de leitura.
    Uma pena, porque acho a ideia ótima e, pelos seus comentários, o livro tinha tudo para ser 5 estrelas mesmo.
    Ainda assim, pretendo fazer a leitura um dia!
    Beijos!

  • Andréia Nogueira
    26 março, 2013

    Eu li o livro e concordo com você. No começo chega ser cansativo tanta citação de livro, mas não sei se é pelo costume ou pelo romance, como você falou, depois ele fica mais rápido.
    Apesar de ter o livro, 1ª edição,marquei todos os livros citados e ando morrendo de vontade de ler, para realmente saber se estava de acordo com o momento a citação…rsrsrs…
    Ótima resenha.
    Bjos!!!
    Andréia
    Sentimento nos Livros

  • Vanessa Vieira
    26 março, 2013

    Parabéns pela resenha Pah! Estou ansiosa para ler Ler, Viver e Amar em Los Angeles! O meu livro é da primeira edição. Beijo!