janeiro 22, 2016

[Resenha] Por Favor, Ignore Vera Dietz – A.S. King

POR_FAVOR_IGNORE_DIETZ_A_S_KING_ResenhaVera Dietz e Charlie Kahn foram melhores amigos desde crianças até completarem 17 anos. Mas agora Charlie está morto. E morreu de uma maneira horrível e misteriosa. E morreu brigado com Vera. A vida não tem sido fácil desde então. Vera não sabe direito como agir, como pensar, o que sentir. Sua mãe foi embora quando ela tinha apenas 12 anos, e seu pai é adepto da filosofia de ignorar os problemas até que eles desapareçam por mágica. Mas Vera precisa fazer suas entregas no Templo da Pizza. Precisa abrir o coração para o amor. Precisa concluir o Ensino Médio. Precisa colecionar palavras para a aula de Vocabulário. Precisa entender o que realmente aconteceu com Charlie. Precisa seguir em frente.

Editora: Novo Século l 288 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: SaraivaSubmarinoAmazon l Skoob l Classificação: 5/5

 

Meu primeiro contato com o trabalho da A. S. King não poderia ter sido melhor. Já havia visto vários comentários positivos a respeito de suas histórias, mas ainda assim não estava preparada para o turbilhão de sentimentos que sua narrativa é capaz de gerar. Não é segredo que gosto de livros reais e reflexivos, principalmente aqueles que abordam a complexidade por trás da vida de um jovem adulto, portanto desde o início eu sabia que iria amar Por Favor, Ignore Vera Dietz, só não imaginava que me envolveria com ele de uma forma tão intensa. Alcoolismo, sexo, drogas, abuso, agressão física, distúrbios psicológicos, tragédias familiares… Ao misturar ficção com realidade, A. S. King criou uma história tocante, real e reflexiva; uma obra que marca, ensina e questiona os valores do leitor. De fato, nenhum livro dolorosamente real é fácil de ser lido, porém a vida é exatamente assim: confusa, conflituosa, repleta de erros, mas constantemente digna de redenção e esperança. 

A obra gira em torno da jovem Vera Dietz. Com dezoito anos é de se imaginar que ela tivesse descoberto alguns dos segredos da vida, entretanto depois da morte do seu melhor amigo nada mais faz sentido – a vida já era complicada com Charlie ao seu lado, só que sem ele ficou infinitamente pior. Fora a morte precoce do amigo, Vera tem que lidar com o fato de que antes de Charlie morrer eles não estavam se falando. Antes da tragédia ela o odiava por ter se virado contra ela, por ter começado a andar com a turma errada, e por tê-la excluído de sua vida. Os dois cresceram juntos, mas em determinado momento ele passou a ignorá-la como todos os outros, recorrendo a amizade deles apenas instantes antes de morrer. Traumatizada pela noite em que tudo mudou, Vera passa a lidar com suas emoções conflitantes através da bebida, fato que traz à tona vários de seus problemas: uma mãe (stripper) que abandonou filha e marido, um pai ex-alcoólatra e os genes tendenciosos de sua família para alcoolismo, o relacionamento complicado com o pai, a solidão de não ter nenhum amigo, a confusão de não saber quais decisões tomar, o bullying no colégio, o amigo morto que a visita através de visões e mensagens, e o constante aviso para ignorar tudo ao seu redor que não parece ter solução. É óbvio que Vera precisa de ajuda, portanto o grande mistério do livro está em como essa jovem enfrentará as dificuldades da vida – dificuldades pelas quais muitos de nós passamos ou iremos passar.

Um dos diferenciais da obra está na forma como ela é narrada. Vera conta sua história de duas formas: pelo presente e pelo passado, descrevendo seu dia a dia ao mesmo tempo em que relembra episódios marcantes em sua trajetória. Por existir uma grande diferença entre a Vera do passado e a do presente, é impossível não perceber o quanto essa garota está quebrada. É doloroso e amargo presenciar tudo o que essa protagonista enfrenta calada, e é simplesmente impossível não se envolver com sua história de luta ou deixar de se surpreender com sua força. Além disso, temos pequenos capítulos narrados por seu melhor amigo. E a grande surpresa é que não são memórias de Charlie, mas seu momento atual como membro do outro lado. Ele morreu, mas possui algo pendente que o liga à Vera. Portanto, Charlie permanece ao seu redor, incitando-a a desvendar o segredo por trás da noite de sua morte enquanto simultaneamente ajuda-a a encontrar o caminho da felicidade. Essa parte foi, no mínimo, inusitada. Adorei a forma direta com a qual a autora aborda a morte ou como ela nos ajuda a ver que uma história sempre possui dois lados. Charlie foi maltratado pela vida, fez muitas escolhas erradas, magoou muito a Vera, mas no fundo a amava e só queria ser digno dela. E, por fim, ainda temos a narrativa do Tempo, um local inanimado constantemente citado do livro – e sim, sei que é estranho um Templo narrar partes de uma história, mas quem foi que disse que esse livro era normal? – e a constante narrativa do pai de Vera, um dos meus pontos de vistas preferidos. Amei o fato de a autora dar voz a um adulto com grande influência nas escolhas de Vera. Segundo a visão dela, temos a tendência de julgar as escolhas de seu pai. Mas graças à narrativa dele, percebemos que nem tudo é preto no branco, e que pais como o Sr. Dietz só querem o melhor para os seus filhos. Simplesmente amo livros assim, com várias narrativas, com mistérios intercalados entre presente e passado, e com a constante lembrança de que todo mundo comete erros.

Além de uma narrativa tão envolvente e singular, AMEI a abordagem dos temas complexos presentes na trama. A autora fala desde a necessidade de financiamento estudantil para o ingresso a faculdade até o abuso de drogas e álcool na juventude. De forma sútil, lemos sobre os medos e as inseguranças de qualquer jovem adulto, mas também lemos sobre os males que infelizmente afetam boa parte da população mundial. É comovente, sincero, rudemente real, e extremamente reflexivo. E o grande diferencial é que, mesmo que a autora nos lembre do quanto a vida pode ser difícil, em vários momentos ela deixa claro que todo mundo carrega sua cota de trauma e insegurança, que não estamos sozinhos enfrentando os altos e baixos do destino, e que para sermos diferentes basta querermos lutar. Seus personagens são tanto vítimas quanto culpados, todos constantemente falham e acertam, todos são humanos como nós. E esse é o charme do livro: a reflexão real do que é viver – mesmo quando seu melhor amigo morre, ou quando seu pai é um valentão que agride sua mãe, ou quando sua mãe é uma stripper fugitiva, e até quando uma garrafa de vodca parece a única solução para os seus problemas.

“O álcool causa depressão. O álcool causa perda de memória. Nenhum dos panfletos diz “o álcool faz com que o seu amigo morto apareça na forma de alienígenas infláveis e bidimensionais”. Nenhum dos panfletos diz que “o álcool faz a dor diminuir”. Mas eu sei que isso acontece.”

No geral eu amei o livro. Ele é forte, tocante, reflexivo, e estruturado de uma maneira totalmente diferente de tudo que já li – até porque não é sempre que temos um menino morto como narrador! Sinto que nem todos os leitores entenderão a forma com que a autora narra tal história, mas mesmo assim deixo o apelo do quão incrível essa história é e de como ela tem a capacidade de nos mudar. Depois dela, tenho certeza que você estará mais atento a sociedade ao seu redor e ao que deve ou não ignorar. Só, por favor, não ignore a Vera Dietz e o que ela tem para te contar.

Beijos!

 
 

 

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29 Comentários

  • Renata Bonasio
    14 fevereiro, 2016

    Achei bem interessante! Animei! Vou incluir na minha lista!
    http://amo-os-livros.blogspot.com.br

  • Rafaella Abreu
    01 fevereiro, 2016

    Só de ver a sua classificação em 5/5 eu ja fiquei super animada pra saber mais sobre esse livro, me identifico muuuito com o seu gosto literário, então sei que vai ser uma ótima leitura pra mim, sem contar que sua resenha me deixou ainda mais curiosa.

  • Evellyn Mendonça
    31 janeiro, 2016

    Ooi Pah, depois de ler a resenha fiquei louca para ler, parece ser um livro muito interessante, muito emocionante.
    Não gosto muito de livros com várias narrativas, mas pelo tema real e reflexivos, vou ler.
    Bjs

  • suzana cariri
    30 janeiro, 2016

    Oi!
    Gostei muito da resenha, o livro pareceu interessante e aborda vários temas importantes, também achei diferente os narradores do livro o que me deixou curiosa e adorei como ela nos faz refletir !!

  • camila rosa
    30 janeiro, 2016

    Oiiee, tudo bom?
    Eu não conhecia o livro, ele parece ser muito bom, também gosto muito de livros reflexivos, e não é fácil quando deparamos com nossa dura realidade em livros, e que coisa capítulos narrados por um menino morto, não li nada parecido com isso ainda, darei uma chance ao livro.
    Beijos *-*

  • Raissa Albuquerque
    29 janeiro, 2016

    Só essa resenha já me fez refletir, imagino como será quando eu ler o livro. A.S. King é realmente incrível. Amei mesmo Pah, beijos!

  • Dan Igor
    28 janeiro, 2016

    O livro parece abalador e desestruturante, a premissa é muito interessante e essa já é a segunda resenha super positiva que leio sobre ele. Ansioso p/ viver essa experiência. Abraços =)

  • Jéssica Fernanda
    28 janeiro, 2016

    Deve ser chocante perder um amigo justo quando vocês estão brigados! Morreria se fosse a Vera.

  • Amanda Souza
    27 janeiro, 2016

    Oii Pah!
    Sempre ouço falar muito bem da autora, mas ainda nao tive a oportunidade de ler uma obra dela, sei que esse é um lançamento dela, e a sua resenha me instigou a ler o livro, de verdade. Amo histórias que depois de lidas, mudem a forma de pensar do leitor, sobre a sua própria vida, ou sobre a vida no geral, e tenho certeza que essa obra é uma dessas histórias, só de ler a resenha me deu um aperto no coração pelo sofrimento e dificuldades dela, e aquele sentimento de que a Vera de algum jeito encontre a paz que precisa no fim da história.

  • Micheli Pegoraro
    27 janeiro, 2016

    Olá Pah,
    Assim como você, adoro livros que tratam de temas bem reais e polêmicos, que nos fazem refletir e nos questionar sobre várias coisas da vida. Esse livro parece ser bem profundo, intenso e um tanto inusitado, com a narrativa do Charlie, seu amigo morto. Gosto de livros que tem várias narrativas e é narrado no passado e presente. Resumindo, esse livro tem tudo o que gosto numa leitura e já entrou na meta desse ano. Com certeza não vou ignorar Vera Dietz, pois estou muito curiosa pra descobrir como termina essa história.
    Beijos

  • Maria Fernanda Medeiros
    26 janeiro, 2016

    Amei a resenha! Mais um pro "quero ler" do skoob. Estou curiosa pra saber como coube tudo isso em apenas 288 pgs!

  • Natalia Biazussi
    26 janeiro, 2016

    Uau, adorei a resenha!! Muito bem escrita me fez querer ler o livro…

  • Leticia Golz
    25 janeiro, 2016

    Oi, Pah
    Ainda não conhecia nenhuma obra da autora, mas já me encantei por essa. Adoro também, livros que abordam esses assuntos complexos e que nos fazem pensar, e quem sabe mudar nossa maneira de ver a vida.
    Gostei de saber quão profunda a obra é, e o quanto você amou. Acho que entenderia sim a maneira com que ela narrou a história, mas acredito que só lendo para saber né.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

  • Veronica Vieira
    25 janeiro, 2016

    Muita informação em um livro só…
    Não sei se estou pronta para esse livro, mas parece ser realmente muito interessante.

  • Josiane
    25 janeiro, 2016

    não conhecia essa autora, mais depois da sua resenha me deu vontade de ler.
    Parece àquele tipo de livro legal com uma pegada diferente dos títulos mais habituais que a gente vê por ai.
    Legal gostei.

  • Amanda Ferreira
    25 janeiro, 2016

    Adorei a dica de leitura. Achei bem interessante a história de Vera e sua vida complicada e cheia de problemas pessoais e emocionais. Achei que o capítulo de Charlei é um diferencial que nunca tinha visto em outros livros e gostei. Ah, e sobre a narrativa ser contada no passado e presente: adorei. Nos faz enxergar como era sua vida antes e depois da morte de seu melhor amigo.

  • Jesica Duarte
    24 janeiro, 2016

    Narrativas intercaladas entre o presente e passado, assuntos que não fogem da nossa realidade, uma história narrada por um menino morto, gente do pasma. Essa autora A.S king me surpreendeu e valeu muito a classificação desse livro com 5/5. Adorei a resenha Paola.

  • Aciclea vieira
    24 janeiro, 2016

    Paola,após ler sua resenha me interessei mais ainda em ler esse jovem adulto maduro da A.S.King.Amo narrativas que geram turbilhões de sentimentos.Amo histórias tocantes,reais e reflexivas,gosto muito quando a narrativa mescla presente e passado,lembrar que todos cometem erros é um ponto positivo da obra.Achei bem interessante termos um menino morto como narrador.Não ignorarei Vera Dietz.Mil beijos!!!

  • Theresa Cavalcanti
    24 janeiro, 2016

    Parecer ser muito bom, fiquei com uma vontade de ler!

  • Mariana Monteiro
    24 janeiro, 2016

    Fiquei com vontade de ler!
    http://mesadequarto.blogspot.com.br/

  • Ana I. J. Mercury
    23 janeiro, 2016

    Oii Pah, amei demais sua resenha!!!
    Só tinha ouvido falar de nome, mas agora fiquei supercuriosa para lê-lo!!
    Amoooo muitooo livros que falam sobre a realidade da vida no geral, principalmente de jovens, e com mais de uma narrativa fica muita mais fácil e interativo de compreendermos cada atitude, sentimento e anseios dos personagens, além de nos abrir os olhos pro mundo a nossa volta né? Da pra entender algumas de nossas atitudes mesmo ou de nossos companheiros.
    Já está anotado aqui na minha big wishlist, rsrsrs
    Assim que puder, lerei sem falta!!!
    beijãooo!

  • Ana I. J. Mercury
    23 janeiro, 2016

    Nooooossa Pah, que lindooooo!!!
    Amei demais sua resenha e me deixou ansiosíssima para lê-lo!!
    Só tinha ouvido falar de novo do livro, esses dias, mas essa a primeira resenha, e me deixou super a fim, rsrs
    Amooooo muito livros reflexivos que mostram a realidade nua e crua da vida, principalmente dos jovens, e com várias narrativas fica muita mais fácil de compreendermos cada ponto, cada atitude, como também, aprendemos mais sobre a nossa vida e as atitudes dos que nos cercam.
    Já inclui ele na minha big wishlist aqui, rsrsrsrs
    bjãoooo!

  • rayane colombo gomes
    23 janeiro, 2016

    o livro parece mto bom e intenso. mas este tipo de livro eu nao gosto. tbem nao gosto de ficar misturando o passado e o futuro.. hahah mas mesmo assim aparenta ser mto bom e tua resenha ficou mto top

  • Potato Purple Blog
    23 janeiro, 2016

    Adorei este livro, ainda não o conhecia e assim que li a sinopse, já me apaixonei pelo tema e coloquei na lista do Skoob kk' Sua resenha, fez eu gostar mais ainda dele e agora estou morrendo de vontade de assistir. Beijos.

    http://www.potato-purple.blogspot.com
    http://www.youtube.com/potatopurpleblog

  • Três Livrólatras
    23 janeiro, 2016

    Amei a resenha, mas confesso que essa temática não me atrai muito. Mas a capa é linda e você simplificou toda a proposta dele na resenha. Arrasou!

  • Lara Cardoso
    23 janeiro, 2016

    Não conhecia esse livro, mas após ler a sinopse e sua resenha, fiquei bem curiosa e pretendo lê-lo, parece ser muito bom, acredito que irei gostar da história. Sua resenha está muito boa.

  • Cailes Sales
    23 janeiro, 2016

    Oi Pah! Faz tempo que não comento aqui nas resenhas, é que não esta dando p acompanhar mesmo, apenas os vídeos…Enfim, não imaginava q esse livro abordava essas temáticas tão importantes e fiquei feliz por essa surpresa, realmente parece um livro profundo e um tanto quanto inusitado, realmente. Gostei bastante, entrou p minha lista de desejados!

  • Bella Viana
    23 janeiro, 2016

    Gostei. Achei muito interessante, gosto de livros jovem adultos assim, que refletem e falam sobre os traumas e nos faz refletir sobre várias coisas. Essa resenha ficou muito boa! me deixou curiosa para entender mais dessa história, Esse livro ja ta na minha lista.

  • Vanessa Meiser
    22 janeiro, 2016

    Nossa, que resenha completa, parabéns Pah.
    Estou com vontade de ler este livro, gosto de tramas polêmicas e densas, mesmo que envolvam temas sérios. Recentemente li "diário de uma garota normal" que é pelo visto trata de fatos parecidos. Certeza que quero ler este também.

    Beijo, Vanessa Meiser – Retrô Books
    http://balaiodelivros.blogspot.com.br/