agosto 10, 2016

[Resenha] Perdão, Leonard Peacock – Matthew Quick

PERDÃO_LEONARD_PEACOCK_MATTHEW_QUICK_ResenhaHoje é o aniversário de Leonard Peacock. Também é o dia em que ele saiu de casa com uma arma na mochila. Porque é hoje que ele vai matar o ex-melhor amigo e depois se suicidar com a P-38 que foi do avô, a pistola do Reich. Mas antes ele quer encontrar e se despedir das quatro pessoas mais importantes de sua vida: Walt, o vizinho obcecado por filmes de Humphrey Bogart; Baback, que estuda na mesma escola que ele e é um virtuose do violino; Lauren, a garota cristã de quem ele gosta, e Herr Silverman, o professor que está agora ensinando à turma sobre o Holocausto. Encontro após encontro, conversando com cada uma dessas pessoas, o jovem ao poucos revela seus segredos, mas o relógio não para: até o fim do dia Leonard estará morto.

Editora: Intrínseca l 224 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: SaraivaSubmarinoAmazon l Skoob l Classificação: 4,5/5

 

Eis um fato sobre mim: amo livro jovens com alto teor reflexivo. Acredito que ao mesmo tempo em que devemos agradecer por termos saído ilesos do ensino médio, também temos que cuidar daqueles que carregam grandes sequelas causadas pelo abuso e por bullying tão comum entre os jovens. Para muitos o ensino médio, ou o período escolar como um todo, é extremamente cruel. Portanto, gosto de livros que falam sobre as típicas dificuldades de um jovem adulto e incitam no leitor a vontade de mudar e de refletir sobre suas ações. Assim, é claro que estava com altas expectativas para a leitura de Perdão, Leonard Peacock. Afinal, Matthew Quick promete discorrer sobre temas complexos e dolorosos que podem levar um jovem a cometer o suicídio – o que por si só foi capaz de alimentar minha curiosidade. Entre grandes expectativas e muitas surpresas, a história do jovem Leonard cumpriu o prometido e, além de me ensinar valiosas lições, foi capaz de marcar meu coração.

A trama gira em torno do aniversário de dezoito anos do Leonard Peacock, dia em que ele decidiu matar um colega de escola – um valentão cruel disfarçado de popular – e se matar. A narrativa mescla: o dia que Leonard está tendo e a forma como ele se despede de algumas pessoas importantes, memórias do personagem sobre fatos e dias fundamentais para sua formação, o passar das horas e o esperado momento em que ele espera atirar no seu alvo e depois explodir seus próprios miolos, e algumas cartas de pessoas do futuro que conhecem Leonardo e apelam para que ele tenha fé e não se mate. Inicialmente, intercalada entre fatos e memórias, a narrativa aparenta ser ilógica e confusa. Entretanto, conforme vamos mergulhando na mente do protagonista, descobrindo os motivos por trás de sua vontade de cometer suicídio e enxergando nele seus verdadeiros medos e anseios, passamos a amar a história e cada um de seus mistérios. – Por que será que Leonardo quer se matar? Por que ele quer matar apenas um determinado colega da escola? E, a pergunta principal, será que ele terá coragem de colocar seus planos de suicídio em prática?

“Eu me sinto como se estivesse quebrado. Como se eu nunca mais pudesse me ajustar. Como se não houvesse mais lugar para mim no mundo ou algo assim. Como se eu tivesse ultrapassado o meu tempo de estadia aqui na Terra, e todo mundo estivesse constantemente tentando me dar dicas sobre isso. Como se eu devesse apenas ir embora.”

O interessante na narrativa é interpretar os apelos por trás da figura de Leonard. Desde o começo senti que o suicídio foi escolhido pelo garoto como válvula de escape, como fuga da solidão, do abandono e desprezo da mãe, dos traumas do passado, e do medo do futuro não melhorar. Portanto, ficou fácil perceber que Leonard está buscando, com todas as forças, um motivo para ter esperança. Mesmo no fundo do poço ele quer acreditar que o futuro será diferente, o problema é que ninguém parece se preocupar o suficiente com ele para conceder ao jovem uma migalha de fé no amanhã. Essa característica, sem dúvida, foi o que mais me marcou: os apelos silenciosos do protagonista, sua forma simples e direta de ver a vida, e suas tentativas desenfreadas de lutar por algo ou por alguém, por qualquer coisa semelhante à felicidade. Leo me deu várias lições; ele me ensinou a valorizar a vida, a aproveitar cada dia que me é dado, a enxergar o quanto a vida é limitada e o quanto é fundamental fazermos o que realmente amamos (principalmente quando o assunto é trabalho), e reavivou em mim a importância de respeitarmos e entendermos às diferenças. Leo é o tipo de personagem que nos faz refletir, mudar e enxergar nossas falhas. E eu amei isso, amei o quanto ele tocou meu coração.

“Feche os olhos e tente ver o mundo com seu nariz — permita que o olfato seja a sua visão. Ponha o sono em dia. Ligue para um velho amigo que você não vê há anos. Arregace as pernas da calça e entre no mar. Assista a um filme estrangeiro. Alimente esquilos. Faça alguma coisa! Qualquer coisa! Porque você inicia uma revolução, uma decisão de cada vez, toda vez que respira. Só não volte para aquele lugar miserável para onde vai todos os dias. Mostre-me que é possível ser adulto e também ser feliz. Por favor.”

“O retorno para casa sempre aumenta minha depressão, porque essas pessoas são livres — estão voltando do trabalho para as famílias que eles mesmos escolheram e constituíram — e ainda assim não parecem felizes. Eu sempre me pergunto se é assim que Linda fica quando dirige até em casa, vindo de Nova York: tão completamente miserável, com cara de zumbi, enganada. Será que ela se parece com a mãe de um monstro?”

Além de um protagonista emocionante e verdadeiro (até mesmo em suas falhas), o livro aborda temas importantes como preconceito, bullying, abandono familiar e suicídio. E o bom é que o autor fala sobre tais assuntos com propriedade e simplicidade, mostrando ao leitor os fatos sem rodeios e meias-verdades; e é disso que precisamos, de livros que falem sobre experiências negativas sem romantização ou dramatização excessiva. Amei essa característica do livro, assim como amei sua narrativa e a personalidade do Leo. O único defeito da obra é o final. Já sabia (ou melhor, tinha quase certeza) como seria o desfecho, portanto não foi a previsibilidade que me irritou, mas sim a maneira abrupta da narrativa terminar. Claro que o autor fez seu ponto e respondeu parte de nossas perguntas, mas sinto que merecíamos saber mais – não só para saciar a curiosidade do leitor, mas também para auxiliar outros jovens na mesma situação.

No geral, apesar do final, o livro é magnífico e reflexivo. Tirei vários ensinamentos da obra e acho que, desde que a leitura seja feita despretensiosamente e livre de julgamentos, a história tem tudo para ficar em nossos corações.

Beijos!

 
 

 

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16 Comentários

  • esther santana
    30 outubro, 2016

    Fiquei com vontade de ler. Histórias assim são muito boas, pois sempre aprendemos algo, uma lição; e podemos enxergar o que o outro passa
    Com certeza já esta na minha wishlist

  • Adriana Holanda Tavares
    19 agosto, 2016

    Paola livros com temáticas densas como essa são os que mais gosto, porque eles retratam exatamente as coisas que ficam por serem ditas ao mundo, as verdades inauditas, que guardamos debaixo de uma pele de dor e sofrimento por sermos maltratados e excluídos pelos colegas e por nós mesmos (esse é o pior tipo de exclusão). Quando li a sua resenha tive exatamente essa impressão: de que Leo tinha muito mais exclusao dele mesmo do que da sociedade como um todo. E isso o levou a tomar essas atitudes mais drásticas com ele mesmo e com os que lhe feriram ou lhe marcaram de uma forma ou de outra. Já está em minha enorme lista de quero comprar!

  • Andrea Barbosa
    19 agosto, 2016

    Oi tudo bem..
    É otimo quando um livro nos faz refletir sobre coisas do nosso cotidiano,sobre nossa vida e como devemos agir,e acho super importante livros que abordem temas importantes como preconceito, bullying, abandono familiar e suicídio,ainda nao conhecia o livro ,mas com certeza depois da sua resenha vou considerar le-lo.
    Um abraço e muito sucesso 🙂

  • Vania Correa
    19 agosto, 2016

    Gosto muito de livros que narrem dramas juvenis, são pontos marcantes,o personagem Leonard é bem marcante, beijos…

  • Lara Cardoso
    16 agosto, 2016

    Ainda não li as obras do Matthew Quick, mas tenho muita vontade de ler. Só assisti o filme O Lado bom da Vida, e amei, de verdade. Perdão parece ser muito bom, já vi várias críticas positivas em relação à esse livro, e eu li a sinopse e achei muito boa, tenho muita vontade de lê-lo!

  • Maria Fernanda Medeiros
    16 agosto, 2016

    Já vi várias vezes a capa desse livro, sem jamais ter parado sequer para ver a sinopse. Dessa vez dei a primeira chance, e subiu um arrepio na espinha com a temática e a proposta que esta história traz. Mesmo com os detalhes em que, segundo sua resenha, a obra deu uma pecada, ainda assim me interessei demais por compreender toda a psicologia do personagem principal. Vai pros "desejados" do skoob!!

  • Midnight - Bruna Prata
    14 agosto, 2016

    Conheci esse livro na época que o lado bom da vida estorou, a capa não me chamou atenção e só por isso eu nem li a sinopse, até agora. Me chamou bastante atenção, mas como eu disse na resenha de "Ar Que Ele Respira" não preciso ler, no momento, um livro com a história forte.

  • Micheli Pegoraro
    14 agosto, 2016

    Oi Pah, que resenha mais perfeita ♥
    Amei esse livro, foi o segundo livro que li do autor e mesmo que tenha lido lá em 2014 os sentimentos que tive durante a leitura ainda continuam bem vividos, e foi uma nostalgia relembrar essa história tão apaixonante. Também amo livros jovens que nos trazem muitas reflexões, e o Leo tocou meu coração de um jeito, que tive vontade de estar lá ao lado dele, entrar nas páginas e abraça-lo e dizer que tudo iria ficar bem.
    Li o livro numa noite, foi impossível largá-lo antes de saber qual rumo à história iria tomar. Durante a leitura inteira fiquei torcendo para que alguém ajudasse o Leo, foi muito angustiante ver ele enfrentar seus traumas sozinho e sem apoio. Amei esse livro, aprendi que não é fácil passar por cima de nossos traumas, que apesar do desafio ser grande devemos seguir em frente.
    Beijos

  • Jesica Duarte
    13 agosto, 2016

    Achei o livro muito emocionante, que chama a muito a atenção do leitor. O foco que ele tem por tras da narrativa é muito marcante, é a primeira vez que vejo um livro que mostra um personagem principal tentando tirar a própria vida, também achei que o final merecia mais, muitas questões ainda ficaram sem resposta. Mais enfim o livro é muito bom.

  • Márcia Saltão
    12 agosto, 2016

    Oi.
    Ótima resenha, muito esclarecedora sobre a obra. Não conhecia o autor e nem o livro. Parece ser uma leitura muito reflexiva, mas no momento passo a dica. Talvez um dia venha a ler. Obrigada. Beijos.

  • camila rosa
    12 agosto, 2016

    Oiiee,
    Amei a resenha Pah, já tem um tempo que tenho vontade de ler esse livro, mas infelizmente não tive a oportunidade ainda, gosto de livros que nos fazem refletir, e realmente para muitos o ensino médio, ou outro qualquer período de estudo não foi fácil, espero ler em breve e gostar da leitura.
    Beijos *-*

  • Anna Mendes
    12 agosto, 2016

    Oi Paola! Amei a resenha!
    Quando esse livro foi lançado, eu havia ficado curiosa pela leitura, principalmente por ser um livro escrito pelo autor de "O lado bom da vida" (um livro que eu adorei!). Mas confesso que eu não sabia muito sobre o enredo do livro. Contudo, após ler a sua resenha, fiquei mais curiosa ainda pela leitura. Parece ser uma leitura intensa e envolvente e espero realizá-la em breve 🙂

  • Theresa Cavalcanti
    12 agosto, 2016

    Não conhecia esse livro, mas fiquei bem empolgada para ler ele! Nunca li nada desse autor, mas quero ler.

  • N4tyDark
    11 agosto, 2016

    Oiie Pah ♥! Tudo bem?
    Eu já havia lido " O lado bom da vida " de Mateww Quick e adorei, fiquei muito interessada por este. A premissa me cativou bastante, Acho que Quick tem o grande poder de abordar temas importantes e até pesados de forma leve, sutil e envolvente – e sem deixar de passar a mensagem. Esse livro já estava na minha meta pra este ano !!
    Linda Resenha ♥ Só instiga seus leitores a ler mais ♥

  • Leticia Golz
    11 agosto, 2016

    Oi, Pah
    Também adoro livros com alto teor reflexivo, ainda mais quando trata desses assuntos que são tao dolorosos para alguns jovens.
    Acho que agora só estou vendo esse livro com outros olhos por conta de sua resenha. O que mais gostei de ver é que o autor trata o assunto em sua verdade nua e crua. Com certeza uma leitura que adoraria fazer.

  • Josiane
    10 agosto, 2016

    Adorei a resenha. Estou louca pra ler. Me lembrou um pouco Os 13 porquês. E no fundo eu gosto de livros que nos fazem repensar um pouco nossas atitudes