De uma singela cafeteria, ao último pôr do sol. Das lembranças mais doces da infância, às histórias inventadas nos bares da vida. Saudades, medos, angústias, cascas de cebola, amores eternos e corações partidos se entrelaçam nessa coletânea que explora, com beleza e sensibilidade raras, as diversas facetas dos sentimentos que nos fazem humanos.
130 Páginas l Contos (Romance + Drama) l Amazon l Skoob l Conheça o Autor l Classificação: 4/5
Retratos Falados dos meus Amores Impossíveis é a união de doze contos – histórias de amores improváveis, fracassados ou até mesmo perdidos ao longo do tempo. Confesso que por tratar-se de contos, que geralmente são mais fluidos e superficiais, não esperava muito da leitura. Porém, logo nas primeiras páginas fui surpreendida pelo toque irônico e dramático da escrita do autor. Cada um desses contos propõe uma reflexão ao leitor, fazendo-nos avaliar as inconstâncias da vida e, principalmente, do amor. E não apenas o amor entre um homem e uma mulher, mas também o amor familiar, o amor platônico, e até mesmo o amor por si mesmo. Fabio criou contos que descrevem nossa sociedade e mostram que nem sempre o amor é simples ou belo.
“O que é a vida? Uma simples sucessão de eventos caóticos e aleatórios que não nos conduzem a lugar algum? De que valem todos os sorrisos, todas as conversas, confissões e segredos, se no final tudo tende a acabar em lágrimas, despedidas e indiferença?”
Cada conto traz a história de um personagem diferente. Alguns são rápidos e apresentam protagonistas sem nomes, já outros são densos, poéticos e até mesmo raivosos – tudo depende do momento em que os personagens estão: paixão física, início ou final de um relacionamento, decepção com a vida, insegurança e arrependimento por ter feito escolhas erradas e, principalmente, solidão (aquela solidão que corrói e assusta). Meus contos preferidos são: Coisas que Lembraremos Antes de Ver o Pôr do Sol, que mostra como o amor entre pai e filho pode se perder com o tempo e com o orgulho; Memórias de uma Bruxa, protagonizado por uma jovem que volta para a cidadezinha do interior em que nasceu e prova o quanto superou o passado e tornou-se dona do próprio destino; e Por Causa da Chuva, que conta o início, o término e – talvez – o recomeço de um amor construído ao longo dos anos e por causa da chuva. Esses três contos, assim como os outros, possuem algo em comum que me agrada muito: emoção, dor, superação e recomeços.
O grande charme da escrita do Fabio está no fato dele conseguir transmitir emoção em cada palavra escrita – às vezes as emoções são cruéis e dolorosas, mas o fato é que elas transbordam de cada página. Adorei a construção dos personagens e de cada conto, gostei da ambientação diversa, da ironia por trás de certos protagonistas e, como já era de se esperar, da dura realidade por trás dessas doze histórias. Aqui, falamos sobre luto, amores interrompidos, traição, e sobre as falhas que qualquer ser humano pode cometer quando o assunto é amor. Portanto, o livro é perfeito para aqueles que gostam de histórias reais, dolorosas e que nem sempre possuem um final feliz.
Em contrapartida, existe algo em especial que me desagradou durante a leitura e que preciso compartilhar com vocês. Racionalmente sei que um autor não precisa pensar como seus personagens e que, na grande maioria das vezes, ele cria figuras controversas na intenção de incitar o leitor a refletir sobre valores e prioridades. Contudo, não posso negar que alguns dos protagonistas criados pelo Fabio me insultaram. Veja bem, nenhum conto visa ofender ninguém, mas me senti assim ao encontrar homens que propagam uma visão de mundo em que as mulheres são constantemente objetificadas. Vi descrições de mulheres que estão chorando, e que se choram perante um estranho obviamente justifica-se isso por motivos amorosos, ou de mulheres admiradas pelo seu corpo e que não aceitam envelhecer e não percebem que a beleza também está em suas linhas de expressões e, no caso pior, de homens que veem a beleza apenas no corpo jovem e curvilíneo de uma mulher. Mais uma vez digo que sei que esses personagens refletem parte da nossa sociedade, mas emocionalmente – como alguém que sempre fala sobre aceitação e beleza real, e não comercial – não consegui aceitar o ponto de vista desses personagens sem me sentir insultada, como se meu papel como mulher fosse apenas ser bonita, jovem e perfeita.
Em linhas gerais achei os contos incrivelmente bem escritos, sinceros e tocantes – eles realmente nos fazem refletir sobre valores e prioridades, nos mostrando o quanto é preciso se esforçar para fazer o amor durar. Contudo, é preciso iniciar a leitura sabendo que nem todos os personagens centrais são cativantes e que, pelo menos para mim, boa parte deles tende a uma visão prepotente e subjugada da figura feminina – o que não significa que não exista no livro mulheres fortes o suficiente para provar o quanto essa visão está errada, como é o caso do maravilhoso conto Memórias de uma Bruxa. O importante é começar a leitura sabendo que ela é real, cruel, reflexiva e que, algumas vezes, ela gera ódio da sociedade preconceituosa em que vivemos. No final, gostei da escrita do autor e do que ele propõe. Espero ter a oportunidade de ler mais obras dele.
Sobre o Autor
“Começou a escrever meio que por acaso e acabou pegando gosto pela coisa (na verdade, foi uma maneira que encontrou para economizar com terapia). Participou de algumas antologias, foi finalista do Prêmio SESC 2012, categoria contos, e finalista do Prêmio SESC 2016, com o romance “A Redenção do AnjoCaído“.”
Fabio Baptista escreve sobre vários estilos e conta com uma gama extensa de publicações na Amazon (entre eles livros de terror e até mesmo fantasia). Para os interessados, vale a pena dar uma conferida nas obras dele (veja aqui).
Beijos!
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