Eleanor & Park é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e “grande” (ela pensa em si própria como gorda), é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação da família impede que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma história sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo.
Editora: Novo Século l 328 Páginas l Romance Jovem Adulto l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
Eis um livro que me deixou sem palavras. Minhas expectativas para a leitura de Eleanor & Park eram gigantes. Desde o início eu sabia que o livro seria triste e, exatamente por isso, li a obra preparada para chorar de soluçar. A história é intensa, reflexiva e triste à sua própria maneira, contudo o final não foi nenhum pouco parecido com o que eu tinha em mente. Sendo justa, a culpa é dos milhares de comentários que li, todos destacando o quanto o desfecho da obra era deprimente – o que de fato ele é, mas não como eu esperava que fosse. Por isso ressalto que, pelo menos para mim, a leitura foi completamente inusitada e surpreendente. Como já era de se esperar de um livro da Rainbow Rowell, a obra aborda temas reais sem cair na mesmice. Ao falar de pobreza, preconceito racial, bullying e abuso físico e moral, a autora cria um amor capaz do, até então, impossível: dar esperança aos corações de dois jovens solitários e maltratados pela vida. E mais, mostra que existem várias maneiras, verídicas por sinal, de experimentar o almejado final feliz.
“Não existem príncipes encantados, pensou ela. Não existem finais felizes. Ela olhou para Park. Dentro dos olhos verdes dele. Você salvou minha vida, ela tentou dizer. Não para sempre, não definitivamente. Provavelmente, só por certo tempo. Mas salvou minha vida, e agora eu sou sua. O que sou agora é seu. Para sempre.”
Eleanor passou um longo período fora de casa e ao voltar enfrenta tudo do que tentou fugir: a submissão da mãe, a agressividade do padrasto, a pobreza da família e a carência dos irmãos mais novos. Além disso, ela é a garota nova da escola, a menina que pesa bem mais do que dizem que deveria, que se veste de forma desmazelada e que tem cabelos completamente indomáveis. Como uma cacofonia de estilos e cores, ela é uma visão e tanto e, mesmo se quisesse, não consegue passar despercebida aos olhares maldosos dos valentões do colégio. Sendo assim, em casa Eleanor constantemente sente medo, dor e desprezo pela situação da família, enquanto no colégio é vítima de insultos que a magoam e a fazem se sentir cada vez mais imprópria. Já Park é um mestiço – de mãe coreana e pai americano – que não sabe ao certo quem é, que carrega no peito o sentimento de não pertencer a lugar nenhum. Em casa ele vive à sombra das expectativas do pai e dos feitos do irmão mais novo (que, assim como o pai, é atlético e branco), enquanto no colégio ele caminha por uma linha tênue que separa os valentões dos nerds. O fato é que Park poderia fazer parte de ambos os grupos, tanto como alvo de piadas quanto como um dos populares, mas, por não conseguir achar seus traços orientais bonitos ou aceitáveis, Park prefere não chamar atenção e ficar na dele (ou seja, perdido em seu próprio mundo). Em suma, Eleanor e Park estão sozinhos em uma sociedade preconceituosa que os enche de dúvidas e medo. Porém, por meio de um golpe do destino, eles vão sentar lado a lado no ônibus da escola e, entre suas diferenças e semelhanças, vão descobrir um no outro tudo o que mais precisam.
A obra tem como pano de fundo a década de 80 (o que garante citações incríveis e típicas da época) e usa de um artifício que gosto bastante: a narrativa intercalada entre os personagens principais. Aparentemente e economicamente falando, Eleanor e Park levam vidas bem diferentes. Contudo, ao mesmo tempo em que eles vão criando um forte laço de amizade, os leitores também vão percebendo o quanto eles são parecidos. Inicialmente o que chama a atenção na leitura é como o destino desses jovens é interligado. Eleanor leva uma vida dificílima em casa, mas a amizade de Park torna tudo um pouco mais fácil de tolerar. Os gibis que ele empresta e as músicas que grava para ela são tudo o que a jovem precisa para fingir que não liga para o que pensam dela, ou principalmente para os surtos de raiva do padrasto. Já para Park, Eleanor é aquela que o ajuda a aprender que, independente do que os outros pensam, ele tem que escolher ser feliz. Não importa se seu pai diz que não, se ele quer usar delineador e ressaltar seus olhos orientais é isso que ele vai fazer. O fato é que a relação entre Eleanor e Park é linda e tocante porque funciona como um bote salva-vidas. Para Eleanor é questão de vida ou morte. E para Park é o que o salva do constante medo de não superar as expectativas dos outros. Emocionei-me muito com a verdade por trás das dificuldades desses jovens. A autora foi certeira ao mostrar o preconceito, a dor e o medo que eles sentem por serem diferentes. Afinal, se hoje o desigual é alvo de descaso, imagine há alguns anos atrás?
A relação que esses dois estabelecem não é incrível apenas por eles se ajudarem mutuamente. Também existe amizade, cumplicidade, veracidade, lealdade, paixão e amor. É praticamente impossível não sentir na pele o que eles estão vivendo, ou deixar de se emocionar com o fato de que, mesmo em meio a tantas dúvidas, eles são capazes de abrir seus corações. O que mais me surpreendeu foi como eles conversam sobre tudo, como são sinceros um com o outro, e como descobrem o que realmente é amar e enxergar a beleza de outra pessoa. Eles são diferentes, mas ainda assim encontram alguém que os ama exatamente por essas particularidades: pelos olhos puxados de Park, ou pelas sardinhas charmosas de Eleanor. Outra coisa que gostei é que, mesmo com o avançar da amizade e da paixão entre eles, para ficarem juntos Eleanor e Park também precisam lutar contra seus próprios preconceitos. Por exemplo, Park tem medo de se envolver com Eleanor e, assim como ela, virar alvo de chacotas – é claro que gostaríamos que ele, imediatamente, se apaixonasse por ela e a defendesse de todos; mas não é assim no livro como também não é na vida real. Já Eleanor tem vergonha de se apaixonar por Park porque vê com olhos preconceituosos seu próprio corpo, imaginando que Park nunca irá amá-la ou vê-la como uma menina bonita e atraente, tudo por causa das suas curvas, sem nem ao menos imaginar como ela mexe com os hormônios de Park. – Deu para perceber a intensidade da relação desses dois? Como ela é real, tocante e apaixonante?
“Não gosto de você, Park. Eu acho que vivo por você. Acho que nem respiro quando não estamos juntos. (…). Só o que faço quando estamos separados é pensar em você, e só o que faço quando estamos juntos é entrar em pânico. Porque cada segundo parece ser tão importante. E porque sou tão maluca, não me controle. Não sou mais minha, sou sua; e se você resolver que não quer mais me ver? Como pode me querer como eu quero você?”
Sei que já me estendi o suficiente, mas ainda tenho que dizer o quão profunda é a mensagem por trás dessa história. A verdade é que a obra, como todos os livros da Rainbow Rowell, são emocionantes por darem vida a personagens, problemas e desfechos completamente reais. A sensação que tive ao terminar é que tal história é uma lição de vida, um exemplo de que sempre temos que manter a fé. Fora que o livro conta com muita diversão e paixão, mesclando perfeitamente a realidade com o sonho juvenil de encontrar um amor para vida toda. Amei, simplesmente amei.
Beijos!
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