Marta é bipolar, adolescente e tenta viver uma história de amor. Um velho psiquiatra, disposto a produzir Literatura leiga e fugir das teses para o meio acadêmico, narra os fatos mais significativos da vida de Marta, abrangendo toda a sua primeira adolescência, até que possa caracterizá-la como bipolar tipo I. O mais original é que ele mostra Marta às voltas com a vida que todos levamos — tentando viver sua própria história de amor — e não apenas com o transtorno em si ou tratando dele.
Editora: Schoba l 216 páginas l Compre aqui: Amazon l Skoob
“O amor faz o tempo passar, e o tempo faz passar o amor”.
Marta é um livro com um grande teor psicólogo. Com uma história intensa e palpável, o autor narra com destreza a confusão de sentimentos que acabam por deixar transparecer a personalidade bipolar da jovem Marta, fator que poderia ser tratado de várias formas, mas no livro em questão é abordado sob um contexto inusitado, elemento que surpreende por sua casualidade. Sendo assim, a bipolaridade de nossa heroína é apresentada no dia a dia vivenciado pela mesma, cada detalhe, rico em características e sentimentos, nos permite compreender o quanto ela sofre com a intensidade das emoções que a afligem, ora boas, ora ruins.
Como alguns jovens de sua idade, Marta sai de casa para estudar, seu sonho é concluir a universidade tão almejada de jornalismo e então regressar para sua pequena cidade natal, onde poderá desfrutar da felicidade de viver ao lado de seu amado. Desde mais nova, ela alimenta um grande amor por João, garoto com quem namorou na época de escola. O relacionamento dos dois depois de algum tempo chegou ao fim, mas o sentimento perdurou, crescendo com o passar do tempo.
“(…) de fato ninguém se livra do amor que sente só por fugir. É inútil tentar escapar do que levamos dentro de nós mesmos cada sai – ora mais pungente, ora mais adormecido – e, quanto mais corremos para longe, mais as feridas de amor parecem abrir-se com o esforço da fuga, em vez de se fecharem. Fugir é inútil…”
Assim, com o avançar da trama, descobrimos tudo que liga ou que afasta João de Marta, e compreendemos o quanto esse amor é capaz de influenciar a vida da mesma. Suas atitudes estão sempre ligadas a João. Quando a saudade pela época em que vivia ao lado dele aperta, ela se fecha para o mundo, alimentando com a solidão a própria dor, contudo, se as lembranças dele e desse amor são capazes de criar e renovar as esperanças de tê-lo novamente, Marte se ilumina, irradiando felicidade. Às vezes percebemos o quanto ela sonha acordada, o quanto ela mescla suas esperanças com o que é realmente real, e viver a angústia dela por meio da narrativa, é demasiadamente intenso, ver o amor mediar a vida da jovem e ver como ele é capaz de conduzi-la por caminhos de tanta dor e solidão, é triste, e esse sentimento se agrava no leitor quando percebemos os sintomas da bipolaridade da protagonista.
Um fator que me agradou muito na forma de escrever do autor está relacionado com as reflexões que o próprio narrador faz no decorrer da narrativa – narrador esse, que é caracterizado na sinopse do livro como um psicólogo. Essas observações e citações, relacionadas com as situações descritas, ou até mesmo com a força dos sentimentos vivenciados por Marta, nos fazem ter a impressão de que o autor conversa conosco, possibilitando que não deixemos escapar os detalhes da trama. Outro ponto é o diário de Marta, suas reflexões e anotações nos envolvem ainda mais na narrativa, acrescentando a trama um lado filosófico, recheado com meditações e pensamentos a respeito do amor, da vida e da felicidade.
“Talvez de fato a felicidade seja o que as pessoas normais podem ter de mais parecido com a loucura, porque, quanto mais felizes, mais loucas elas parecem. Só por felicidade dança-se sob a chuva, desperta-se a namorada de madrugada para lhe fazer uma serenata, e só por felicidade grita-se de alegria e não de dor”
Preciso mencionar também um aspecto a la Machado de Assis que me chamou a atenção na obra em questão. Quem já leu Dom Casmurro sabe que o autor abusa (de uma forma incrível, se me permitem dizer) do antigo – “Mas e se?” – Sabe as interrogações, dúvidas e possibilidades que ficam em aberto? Pois bem, senti um pouco disso em Marta, o autor deixa alguns fatores pendentes, são elementos que não influenciam diretamente o rumo da história, mas dão a impressão de que algo ficou não explicado, ou não esclarecido, a graça é que isso explora nossa imaginação, mas nunca teremos certeza se nossa intuição está totalmente correta. (Para quem já leu, vocês não acham que a amizade de Marte e suas duas amigas deixou um ponto em aberto? Para mim, uma das despedidas delas me deixou com a pulga atrás da orelha).
No todo só posso dizer que me surpreendi, o livro é intenso, mas não é cansativo e o final é, digamos, arrebatador, mas só lendo para entender. Agradeço a oportunidade de participar do Book Tour desse livro, a leitura foi muito gratificante!
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