Em uma noite fria, numa improvável esquina de Chicago, Will Grayson encontra… Will Grayson. Os dois adolescentes dividem o mesmo nome. E, aparentemente, apenas isso os une. Mas mesmo circulando em ambientes completamente diferentes, os dois estão prestes a embarcar em uma aventura de épicas proporções. O mais fabuloso musical a jamais ser apresentado nos palcos politicamente corretos do ensino médio.
Editora: Galera Record l 352 Páginas l Jovem Adulto l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 4/5
Existem certos autores que te fazem esperar grandiosidades de uma leitura, de forma que você nem precisa conhecer todas as suas publicações para saber que seus livros são especiais, e no meu caso, é assim que enxergo o trabalho do John Green. Existe algo de mágico em sua escrita, e não digo isso apenas porque me emocionei horrores com o livros A culpa é das estrelas, mas porque aprendi com ele, da mesma forma que aprendi com Will & Will. De fato, o autor, em parceria com o David Levithan, manteve uma característica de sua escrita que não cansa de me surpreender, a forma livre com a qual ele trata de temas polêmicos comuns de nossa sociedade, a maneira como ele fala do jovem como um jovem, apresentando morais e afirmando seus valores sociais de forma implícita, como se ele não tivesse a intenção de ensinar ou pregar nada com seus livros, e exatamente por isso, o fazendo. Isso faz sentido? Creio que não, mas é o que acontece quando se trata do autor. Nós lemos sobre amor, amizade, depressão, preconceito, homossexualidade e aprendemos a ver tais aspectos sobre um novo olhar crítico, isso tudo sem parecer que estamos lendo um livro feito com a intenção de emocionar ou conscientizar. Portanto, se você espera uma história reflexiva e extremamente emocionante já aviso, não é disso que se trata esse romance; ele é um retrato juvenil de dúvidas e medos, que vai do clichê ao exclusivo em instantes, e que para os mais sensíveis, tende a apresentar inúmeras lições de vida.
“Além disso, acho que chorar é quase – assim, exceto em caso de morte de parentes ou coisa parecida – totalmente evitável, se você seguir duas regras muito simples: 1. Não se importar muito com nada. 2. Calar a boca.”
A proposta dos autores é expor ao leitor dois personagens diferentes (emocionalmente, fisicamente e socialmente) com o mesmo nome, Will Grayson, e que desafiando a lógica, encontram-se por acaso e descobrem um no outro a chave para a libertação de seus segredos. Enquanto um dos Will tem uma vida normal, rodeado de (meio ou não) amigos, repleto de amarras e reservas, o outro Will vive um estado de forte depressão que o afasta de seguir com força para enfrentar os altos e baixos da vida. Cada um deles narra um capítulo do livro, e o bom disso é que para o leitor a realidade distinta desses dois jovens é perceptível. Enquanto lia o primeiro capítulo, me diverti com a forma irônica do “primeiro” Will apresentar o mundo ao seu redor, de suas regras ilógicas de não se deixar aproximar muito das pessoas, ou da mania dele de evitar falar ou posicionar sua opinião com medo de ser confrontado, ao conhecê-lo eu imaginei que a leitura seria leve e que me proporcionaria inúmeras risadas, e de fato, ela fez isso, contudo a história foi além do bom humor quando o “outro” Will apareceu como narrador.
O que o primeiro Will tem de descontraído, o segundo tem de tenso. Quando ele narra o livro sua depressão abocanha o leitor, deixando-nos apreensivos com o rumo de sua história. Mesmo quando o amor surge em sua vida, seja ele por meio de amigos, familiares ou enlaces amorosos, a depressão o prende na dor, e tudo isso torna difícil para o leitor criar uma imagem desse jovem. Não sabemos como vê-lo, ou interpretá-lo, mas é genuína a vontade de vê-lo mudar, e é quando ele encontra o outro Will que isso começa a acontecer, e o melhor é que esse processo de mudança não é nada fácil, instantâneo ou previsível, muito pelo contrário, é um contínuo e árduo momento de aceitação e transformação, como em geral a juventude é.
“nunca esperava que tudo ficasse melhor – apenas que uma única coisa melhorasse. e nunca funcionou. assim, finalmente, desisti. eu desisto todo santo dia.”
São dois Wills, cada um com seus medos, receios e dúvidas que geralmente são amplificadas quando se tem dezesseis ou dezessete anos, dois jovens que espelham inúmeros outros jovens pelo mundo, e que aos poucos, entre idas e vindas do destino, lutam pelo amor e pela vida. E então, vocês se perguntam, – Mas Pah, e a reflexão homossexual?. Pois é, é só disso que se fala, que o livro é um belo romance homossexual, mas e se eu dizer que esse não é o foco principal do livro? Ele tem romance, romance heterossexual e homossexual, mas para mim, ele é mais que isso. Vi a narrativa como a descrição da nossa juventude atual, vi um pouco da nossa sociedade em cada personagem criado, e vi em seus medos os medos verdadeiros de qualquer jovem. Ou seja, esperar por um livro com um romance homossexual que quebra barreiras é um engano, contudo, almejar por um livro com jovens aprendendo a quebrar barreiras, independente de quais sejam, é o caminho certo para quem vai ler qualquer livro do John Green. E aqui é importante dizer, não espere um grande e único livro, ele é bom, realmente bom, forte em questões de reflexão, mas leve em teor emocional.
Sobre a narrativa. Vai, tenho mesmo que falar? Jovem, atual, irônica, forte e encantadora. Para dar ênfase nas diferenças entre os Wills a diagramação dos capítulos é diferente, de forma que um dos Wills narra sua vida toda em minúscula, TUDO MESMO (vide imagem), o que dá ainda mais força ao sentimento de introspecção que ele tenta passar, porém vi alguns leitores reclamando sobre isso, então, a forma de ver tal aspecto da obra tende a variar.
No geral, aprendi com o livro (mais uma vez) a verdadeira força da amizade, e a importância de lutarmos, corrermos mesmo atrás de nossos sonhos e vontades. Quando se é jovem, é fácil se deixar levar pelo fluxo de expectativas que nos rodeiam, contudo, independente de quão fortes elas sejam, temos que lutar contra a maré, escolhendo amar e se deixando amar, escolhendo viver o amor em suas diversas formas.
Melhor trecho
“eu: você já chamou esse tal darcy para sair? mãe: não. na verdade, ainda não o encontrei. eu: bem, ele não vai aparecer até você o convidar.”
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