Resolvendo o crime. Uma expressão facial por vez. O ano letivo de Colin Fischer acabou de começar. Ele tem cartões de memorização com expressões faciais legendadas, um desconcertante conhecimento sobre genética e cinema clássico e um caderno surrado e cheio de orelhas, que usa para registrar suas experiências com a MUITO INTERESSANTE população local. Quando um revólver dispara na cantina, interrompendo a festinha de aniversário de uma das garotas, Colin é o único que pode investigar o caso. Está em suas mãos provar que não foi Wayne Connelly, justamente aquele que mais o atormenta, que trouxe a arma para a escola. Afinal de contas, a arma estava suja de glacê, e Wayne não estava com os dedos sujos de glacê…
Colin tem síndrome de Asperger, uma das variações do autismo, e por esse motivo vive em seu próprio mundo, um mundo onde tudo é um mistério – desde desvendar as expressões faciais de seus colegas, até provar quem é o verdadeiro dono do revólver abandonado na cantina de sua escola. Para ele a vida é simples e pode ser resumida em objetividade e lógica, contudo em uma sociedade tão sentimental quanto a nossa, e digo isso tanto no lado positivo quanto negativo, Colin sofre por ser diferente e tenta se adequar da maneira que pode: anotando todas as dúvidas e curiosidades em seu inseparável caderno de investigação, andando sempre com sua ficha de expressões – Quem é que imaginou que existiriam tantos sorrisos diferentes no mundo? –, e enfrentando de cabeça erguida as piadas, os esbarrões, e o preconceito que o rodeia.
A perspectiva social de Colin, ou seja suas dificuldades interpessoais geradas pela síndrome de Asperger, foi o que mais me instigou no decorrer da leitura dessa história. Crianças, ou nesse caso adolescentes, com tal particularidade sofrem para compreender emoções e sentimentos, por isso muitas vezes não sabem como agir com seus familiares, amigos, professores… Sendo assim, a história de Colin é, antes de qualquer coisa, uma oportunidade de abrirmos os olhos para nossa sociedade, de conhecermos um pouco mais sobre as dificuldades que os portadores desse tipo de síndrome – e consequentemente seus familiares – enfrentam. Desta maneira lemos sobre um garoto que acabou de entrar no ensino médio e que é alvo constante de bullying; sobre uma família que está em constante aprendizado e amadurecimento quando o assunto é as particularidades do seu filho; sobre o preconceito social enraizado nas escolas e nas panelinhas juvenis; e sobre jovens que levam armas para a escola com a intenção de “intimidar” seus colegas.
Com relação ao tal do “revólver no colégio” os autores fazem uma boa crítica social, contudo a narrativa tem como enfoque principal o suspense relacionado com esse crime: – De quem será que era essa arma?, e o fato é que, por mais divertido que o mistério seja, eu não gostei disso, já que é o personagem principal, um garoto de quatorze anos, o responsável pela investigação. Eu até entendo o ponto de que o protagonista tem mais facilidade de perceber detalhes, e de que tal aventura nada mais é do que a união entre ele e o “valentão” do colégio (alguém que Colin acaba sendo obrigado a ajudar quando decide descobrir o verdadeiro dono arma), porém achei ilógico o garoto sair por aí recolhendo pistas, enfrentando gangues, e passando por cima de autoridades como policiais e investigadores. E não é que não seja bacana ler sobre tal aventura, ela é sim divertida e envolvente, porém extremamente fantasiosa.
Assim o livro tem duas vertentes: a abordagem das peculiaridades de Colin, que eu gostei, e a desenrolar do caso do crime da arma no colégio, que não me agradou muito. E o fato é que essa abordagem dupla proporciona que, ao mesmo tempo em que o livro seja um pouco reflexivo, ele também seja divertido e repleto de aventuras. Por esse motivo, mesmo que eu não tenha gostado completamente da história, consegui me entreter com ela, apreciando sua leitura rápida e direta, rindo das trapalhadas de Colin, e torcendo por suas descobertas – não as relacionadas com o crime, mas as listadas por seu coração.
Em suma é um livro para ser lido sem grandes expectativas, para ser apreciado por sua diversão, e indicado para aqueles que gostam de tramas escolares narradas por personagens envolventes e peculiares.
“A vida real não funciona como um romance de mistério. Mas deveria. Investigar.”
Comente via Facebook