GEORGIE MCCOOL sabe que seu casamento está estagnado. Tem sido assim por um bom tempo. Ela ainda ama seu marido, Neal, e ele também a ama, profundamente – mas o relacionamento entre eles parece estar em segundo plano a essa altura. Talvez sempre esteve em segundo plano. Dois dias antes da tão planejada viagem para passar o Natal com a família do marido em Omaha, Georgie diz a ele que não poderá ir, por conta de uma proposta de trabalho irrecusável. Ela sabia que ele ficaria chateado – Neal está sempre um pouco chateado com Georgie –, mas não a ponto de fazer as malas e viajar sozinho com as crianças. Então, quando Neal e as filhas partem para o aeroporto, ela começa a se perguntar se finalmente conseguiu. Se finalmente arruinou tudo. Mas Georgie estava prestes a descobrir algo inacreditável: uma maneira de se comunicar com Neal no passado. Não se trata de uma viagem no tempo, não exatamente, mas ela sente como se isso fosse uma oportunidade única para consertar o seu casamento – antes mesmo de acontecer…Será que é isso mesmo o que ela deve fazer? Ou ambos estariam melhor se o seu casamento jamais tivesse acontecido?
Editora: Novo Século l 304 Páginas l Romance Contemporâneo l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Que livro mais incrível! Sério, estou cada vez mais apaixonada pela escrita da Rainbow Rowell. Uma das coisas que aprendi após ler três livros da autora – além de ficar abismada com seu talento – é que suas histórias estão completamente voltadas para a vida real. Seus livros podem ser românticos, trágicos ou fantasiosos, mas, independente disso, nunca deixam de falar com propriedade sobre os relacionamentos humanos, sempre focando nas dificuldades que todos nós enfrentamos ao longo da vida. Em Ligações a autora discorre sobre o casamento, não como a versão de um ato jovem e impensado, mas como um enlace de quase quinze anos, como um relacionamento que perdurou, amadureceu, e que atualmente enfrenta uma crise que põe em risco sua legitimidade. Trata-se de uma história real, que poderia acontecer comigo ou com você, e que aborda as idas e vindas do amor; como uma espécie de tributo às dificuldades e às segundas chances proporcionadas pelo destino. Afinal, amar é se entregar, viver intensamente, perdoar e recomeçar.
“Não dá para saber como é de fato entrar na vida de alguém e ficar lá. Não há como antever todas as maneiras com as quais você vai se entrelaçar, como vai conectar pele com pele. Como a ideia de ficar longe vai soar dali a cinco anos, dez… quinze.”
Georgie está prestes a viajar com o marido e as filhas para a casa da sogra. O combinado é passar o natal lá, contudo uma oportunidade de trabalho – aquela pela qual ela esperou a vida toda – aparece, fazendo com que ela adie a viagem. Neal apoia Georgie em sua decisão mas não concorda com os termos dela, por isso, junto com as filhas, faz a viagem sem a companhia da mulher. Uma única semana separados; em tese eles se falariam todos os dias e Georgie conseguiria o contrato profissional pelo qual sempre almejou, entretanto, a realidade é que: ela não conseguirá escrever, viverá com medo de Neal estar muito chateado com ela, sentirá uma saudade enorme das filhas, perceberá o quão dependente é do amor e da presença do marido e, beirando a loucura, encontrará um telefone antigo que permite que ela ligue para o Neal de anos atrás, um Neal que ainda era seu namorado e que tinha acabado de decidir que eles não poderiam ficar juntos, que eles nunca dariam certo. Longe do Neal do presente, Georgie encontra no Neal do passado tudo o que ela precisava naquele momento: o conforto da voz dele. Contudo, a briga do passado faz Georgie questionar se ela realmente era a melhor opção para o futuro de Neal; ela não tem dúvida que ama seu marido, mas duvida que tem o feito feliz. Loucura ou não, o fato é que essas ligações mudam o rumo da vida de Georgie, colocando em jogo seu passado, seu presente e todo o seu futuro.
O mais incrível do livro é o quanto Georgie se apega as ligações do passado e como, mesmo confusa, isso muda toda a sua percepção do presente. Ela sabe que sua relação com Neal está sofrendo, mas é só quando ela ouve a voz dele – o dele do passado – é que compreende tudo o que sente por Neal, e mais, que percebe o que deu errado no casamento deles. Eu sei que o drama familiar e a ideia de voltar ao passado não são completamente originais, porém o que me encantou foi o fato das ligações não servirem para corrigir algo, mas sim para mostrar o que Georgie estava deixando de viver, para fazê-la acordar para o futuro. Ela tem um melhor amigo que todos dizem ser o homem perfeito para ela, tem filhas incríveis que mal vê crescer, e tem um marido com o qual pouco conversa, ou seja, sua vida está uma bagunça. Então o que Neal fez de errado para colocá-los nessa situação? Ou melhor, onde foi que Georgie falhou? A grande surpresa é que isso pouco importa durante a leitura, o que realmente conta é compreender como as respostas para essas perguntas mudarão a vida dos personagens principais. E, principalmente, como isso fará o leitor sentir o que realmente significa amar alguém por quase vinte anos.
“Não era esse o sentido da vida? Encontrar alguém com quem compartilhá-la? E se você já acertou nisso, o que mais poderia dar errado? Se você estivesse ao lado da pessoa que ama mais do que tudo no mundo, o resto não acabaria sendo só o cenário?”
Sei que não vou ser capaz de explicar, mas essa história realmente mexeu comigo. Muitas pessoas têm uma imagem negativa do casamento, por isso foi gratificante ler algo que foca na parte real desse enlace. Não existe perfeição, não é fácil fazer um relacionamento durar anos, mas o importante é sempre lembrar de como tudo começou, de como o amor é maior que todos os problemas. Além de abordar esse aspecto do casamento, a obra também conta com uma narrativa intensa e fluida, com personagens que estão longe da perfeição e que exatamente por isso são encantadores, e com a descrição do drama de muitos casais que têm dificuldade em dar prioridade à família ao invés do trabalho. Fora que o romance é tão marcante! Ele não traz nada de inesperado ou novo, mas une duas pessoas tão… não sei, é como se eu os conhecesse, como se fossem meus amigos de infância. Simplesmente amei, talvez por estar noiva ou talvez por ter sido verdadeiramente tocada pela mensagem por trás dessa história.
Minha única ressalva é: existe um grau de maturidade para essa leitura. Não podemos esperar de Ligações um romance fofo, mas podemos apreciar o que esse livro tem de melhor ao aceitar que, acima de tudo, essa é a história de um amor que pode estar chegando ao fim, mas que também pode estar lutando para ressurgir das cinzas.
Beijos!
Comente via Facebook