A pequena cidade de Jellicoe, na Austrália, vive uma guerra territorial travada entre três grupos: os estudantes do internato, os adolescentes da cidade e os alunos de uma escola militar que acampa na região uma vez por ano. Taylor é líder de um dos dormitórios do internato e foi escolhida para representar seus colegas nessa disputa. Mas a garota não precisa apenas liderar negociações: ela vai ter que enfrentar seu passado misterioso e criar coragem para finalmente tentar compreender por que foi abandonada pela mãe na estrada Jellicoe quando era criança. Hannah, a única adulta em quem Taylor confia e que poderia ajudar, desaparece repentinamente e a pista sobre seu paradeiro é um manuscrito que narra a história de cinco crianças que viveram em Jellicoe dezoito anos atrás.
Editora: Seguinte l 286 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
Amo livros que, apesar da narrativa mais fluida e divertida, são reflexivos, enigmáticos e ricos em ensinamentos. Ser um jovem adulto não é fácil; nessa idade precisamos fazer escolhas que carregaremos para a vida toda e, por mais que para alguns pareça pouco mais do que uma fase de transição, não dá para negar o peso da dúvida que todo jovem carrega nos ombros. Amo ler a respeito dos típicos conflitos que um jovem enfrenta ao chegar perto da idade adulta, e amo ainda mais quando as histórias com esse foco abordam temas reais e tocantes. Assim, me surpreendi com a maestria da autora Melina Marchetta que, indo muito além do esperado, mesclou elementos reais do nosso cotidiano com os dramas vivenciados por duas gerações de jovens solitários, confusos e perdidos em seus pesadelos e inseguranças. E o ponto é que ao falar de suicídio, abandono, dependência (tanto a emocional quanto a química) e laços emocionais que foram feitos para durarem uma vida toda, a autora criou uma das leituras mais apaixonantes e emocionantes que já tive o prazer de fazer.
O livro gira em torno da Taylor e de sua ligação com a Estrada Jellicoe. Muito tempo atrás, a jovem foi abandonada pela mãe na Estrada Jellicoe e desde então vive no alojamento do colégio sob a supervisão de Hannah. A relação entre as duas é complexa e indefinida: elas não são confidentes nem melhores amigas e só vivem discutindo, mas para Taylor a presença de Hannah é a certeza de que existem adultos confiáveis – isso até Hannah sumir sem deixar nenhuma pista ou sem ao menos se despedir de Taylor. Enquanto tenta descobrir o que aconteceu com Hannah, Taylor precisa liderar uma importante guerra territorial. O fato é que a região é dividida entre os jovens da Escola Jellicoe, os que moram na cidade e não estudam nessa escola, e os cadetes que anualmente – sempre no período de férias – acampam na região. Ninguém sabe como a guerra entre esses jovens começou, mas agora Taylor é a líder da Escola Jellicoe e precisa proteger os alunos ao mesmo tempo em que derrota os Citadinos e os Cadetes. Entre guerras territoriais, amizades para a vida toda e um misterioso desaparecimento, Taylor vai descobrir mais sobre o passado de Jellicoe e como essa misteriosa estrada mudou para sempre o rumo de sua vida.
O grande diferencial dessa história é que ela alterna entre a narrativa feita pela Taylor e a leitura de partes de um livro escrito pela Hannah. Amei essas duas facetas da história, e amei ainda mais como elas se conectam de uma forma que é impossível descrever em palavras. A curiosidade do leitor é instigada desde o começo, e mesmo que não entendamos onde é que a história escrita pela Hannah se encontra com a vida da Taylor, não conseguimos parar de ler até descobrirmos o mistério por trás da vida dessas personagens. Confesso que no início fiquei mais do que confusa entre os escritos da Hannah, os segredos sobre o passado da Taylor, e a rotina nada comum da cidade de Jellicoe – apesar de ter adorado a proposta da autora de criar uma guerra entre três grupos de jovens bem distintos (os da escola, em sua maioria, não possuem pais; os da cidade possuem uma vida melhor ao lado dos que amam; e os cadetes possuem formação militar rígida e vivem quase sem a presença de mulheres). Porém, conforme o desenrolar da trama comecei a pegar algumas pistas e perceber a grandiosidade dessa história. Taylor não tem mãe, é fechada e solitária, e está no meio de uma guerra, mas enquanto busca descobrir mais sobre seu passado a jovem vai fazer amizades incríveis com aqueles que deveriam ser seus inimigos, também vai abrir o coração para as pessoas ao seu redor, e vai amadurecer de uma maneira muito especial. Enfrentar o passado não é fácil, mas no caso da Taylor vai valer a pena se desprender das amarras e seguir seu coração. E eu amei, de verdade, esse processo de crescimento pessoal vivenciado pela protagonista.
Além da narrativa instigante e surpreendente, do amadurecimento das personagens principais, das amizades que elas fazem durante a obra, e da grande revelação (do tipo que faz um “clique” na mente quando todas as peças se juntam e a trama passa a fazer sentindo), amei as reflexões geradas pelo livro. Terminei a leitura com uma sensação calorosa no peito e com a ideia de que, por mais que as coisas saiam do nosso controle, sempre podemos alcançar resultados positivos. Sabe aquela velha história de faça uma limonada com os limões dados pela vida? Pois bem, é sobre isso que a autora fala: sobre a dor, a perda, a solidão e os constantes pesadelos. Mas a ideia não é ressaltar tudo de ruim que a vida pode dar a cada um de nós, mas sim as coisas boas que resultam de escolhas ruins. A Taylor é o exemplo de que erros podem gerar acertos, que só precisamos ter fé, nunca desistir, abrir o coração para o amor, e acreditar que tudo pode ser diferente. Hannah e Taylor aprenderam – e me fizeram aprender também – a perdoar, superar, aceitar e seguir em frente. E eu amei isso. Amei a capacidade incrível que esse livro tem de mudar o leitor.
Espere da obra muitas surpresas, infinitas dores e perdas, e muitas histórias interligadas sobre superação e recomeço. Recomendo de olhos fechados!
Beijos!
Comente via Facebook