novembro 14, 2017

[Resenha] Inventei você? – Francesca Zappia

INVENTEI_VOCÊ_FRANCESCA_ZAPPIA_ResenhaAlex está no último ano do ensino médio e trava uma batalha diária para diferenciar realidade de ilusão. Armada com uma atitude implacável, sua máquina fotográfica, uma Bola 8 Mágica e sua única aliada — a irmã mais nova —, ela declara guerra contra sua esquizofrenia, determinada a permanecer sã o suficiente para entrar na faculdade. E Alex está bem otimista com suas chances, até se deparar com Miles. Será mesmo aquele garoto de olhos azuis com quem ela compartilhou um momento marcante no passado? Mas ele não tinha sido produto da sua imaginação? Antes que possa perceber, Alex está fazendo amigos, indo a festas, se apaixonando e experimentando todos os ritos de passagem tipicamente adolescentes. O problema é que ela não está preparada para ser normal. Engraçado, provocativo e emocionante, com sua protagonista nada confiável, Inventei você? vai fazer os leitores virarem as páginas alucinadamente, tentando decifrar o que é real e o que é invenção de Alex.

Editora Verus l 346 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: SubmarinoAmazon l Skoob l Classificação 5/5

 

Sabe quando você lê um livro maravilhoso e sente vontade de falar dele para todo mundo? É com essa sensação que terminei a leitura de Inventei Você? A narrativa é contagiante, os personagens carismáticos e a mensagem por trás extremamente tocante e reflexiva. Mas, além disso, o que surpreende é a abordagem de um tema sério e incomum dentro da literatura: a esquizofrenia.

Alexandra foi expulsa de sua antiga escola particular, por isso, vai começar o ano letivo em uma nova rotina: colégio público, serviço comunitário, emprego temporário e uma mãe ainda mais atenta aos  seus horários. Alex está disposta a enxergar tais mudanças como oportunidades de socializar, fazer amigos e ter uma vida normal. Tudo o que ela quer é esquecer o fato de que é esquizofrênica e como isso afasta as pessoas – e, muitas vezes, faz dela o alvo para piadas e brincadeiras maldosas. Mas, mesmo escondendo sua doença, é difícil ser a garota nova que tem o cabelo da cor errada, que não sabe diferenciar o que é real ou alucinação, que anda por aí tirando foto de tudo e que, na grande maioria das vezes, não se sente à vontade para conversar com pessoas estranhas. Mesmo vivendo um ciclo novo, suas inseguranças permanecem as mesmas. E, se não fosse suficiente o medo da doença, a pressão familiar e os problemas na escola, Alex ainda tem que lidar com a dúvida de não saber que tipo de vida levará depois da formatura: – Será que ela vai ser aceita em alguma faculdade? Ou seu futuro está em uma clínica psiquiátrica?

Apesar de falar sobre assuntos sérios, Inventei Você? é o tipo de livro fácil e gostoso de ler. A narrativa, em primeira pessoa, prende do começo ao fim e faz com que o leitor mergulhe de cabeça na mente da protagonista – e é aqui que está o charme da história, pois entender Alex é uma tarefa que ensina milhões de lições valiosas. Além disso, a trama reserva cenas reais e emocionantes (que me fizeram chorar), momentos divertidos e fofos (que garantiram várias gargalhadas) e, surpreendentemente, um romance que me deixou com um sorriso bobo no rosto. Alex conhece Miles na escola. Ela tem certeza que o reconhece de uma lembrança do passado, ao mesmo tempo em que acredita tê-lo inventado em sua mente. A relação dos dois é cheia de altos e baixos, mas é sincera porque ambos escolhem confiar e revelar seus maiores segredos. Além de Miles ser um personagem repleto de marcas – internas e externas – o enlace entre eles é daquele tipo que cura traumas do passado, que se baseia em apoio mútuo e compreensão, e eu amei isso. Amei como esses personagens são perfeitos, em suas imperfeições, um para o outro.

Outra coisa bem legal no livro é que todos os seus personagens – desde Alex até os amigos que ela faz no colégio – podem ser considerados párias. O ponto é que normalmente não os veríamos como protagonistas: a esquizofrênica, o valentão sem emoção, o nerd sem nenhum amigo, os trigêmeos, a líder de torcida raivosa, a estrangeira ignorada… Todos são adolescentes normais (com sonhos, inseguranças e problemas familiares, financeiros ou emocionais), mas ainda assim ignorados ou satirizados na escola. Aqui a autora trabalha com a forma como julgamos as pessoas pela aparência e, principalmente, com os típicos pré-conceitos que precisamos superar na época da escola. O debate desse tipo de assunto pode parecer clichê, mas ele é essencial, principalmente quando encontramos personagens como esses, imperfeitos e tão gente como a gente.

Sinceramente, não sei até que ponto a obra é real no trato da esquizofrenia. Nunca havia lido algo sobre o tema e, tudo o que sei, gira em torno da minha experiência com a doença. Tenho um tio diagnosticado, há alguns anos, com esquizofrenia. Existem vários tipos e a dele foi causada por um grande trauma. Mas, por não sermos próximos, conheço pouquíssimo sobre a doença. Então a história de Alex me ajudou a compreender que existe muito mais por trás dos fatos que marcaram minha família: surtos, alucinações, vício, fugas de centros de recuperação. Imagine ficar preso em sua própria mente, sem poder confiar no que vê, sem ter a certeza de que está vivendo a vida real ou não… Foi doloroso mergulhar na mente de Alex, mas como disse anteriormente, foi reconfortante aprender com ela mais sobre suas peculiaridades e sobre minhas limitações no trato daquilo que não compreendo. Amei, mesmo, essa história. Variando entre reflexão e diversão, a autora ganhou completamente meu coração.

Confesso que gostaria de um desfecho mais elaborado. A mensagem final foi válida e extremamente importante, mas queria bem mais desses protagonistas. Ainda assim, é uma leitura que recomendo de olhos fechados. Sem dúvida entrou para a lista de melhores do ano!

Beijos!

confira também

Posts relacionados

Comente via Facebook


Deixe seu comentário

4 Comentários

  • Veronica Vieira
    16 novembro, 2017

    Fiquei com muita vontade de ler.
    Parece super interessante.

  • Gabriele G.S.
    16 novembro, 2017

    Adorei ler que você "indica de olhos fechados", porque estou de olho nesse livros desde que saiu nos Estados Unidos e foi divulgados por vários canais gringos. Acabei adiando a compra porque livro em inglês é muito caro, mas, agora que veio para o Brasil já prevejo uma nova aquisição…. ;D

  • Carol Guerreiro
    16 novembro, 2017

    Eu também gostei muito!!!
    No fim, reli o epílogo umas 2 vezes, porque acabei me perguntando o que era real ou produto da imaginação dela.
    Mas acho que isso foi intencional mesmo, e cada um de nós, escolhe como quer o seu fim.
    🙂

  • RUDYNALVA
    16 novembro, 2017

    Pah!
    Deve ser um daqueles livros em que ficamos na dúvida se o que a protagonista vê e sente faz parte da realidade ou se é apenas alucinação, criação de um mundo na cabeça dela e parece real, mas na verdade para ela é real, é assim que essa doença se manifesta.
    Como tenho formação em psicologia, gostaria muito de apreciar a leitura.
    Pena que o desfecho não foi como desejou.
    Adorei a inovação de você segurando o livro.
    “A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar.” (William James)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!