outubro 29, 2015

[Resenha] A Febre – Megan Abbott

Na Escola Secundária de Dryden, Deenie, Lise e Gabby formam um trio inseparável. Filha do professor de química e irmã de um popular jogador de hóquei da escola, Deenie irradia a vulnerabilidade de uma típica adolescente de 16 anos. Quando Lise sofre uma inexplicável e violenta convulsão no meio de uma aula, ninguém sabe como reagir. Os boatos começam a se espalhar na mesma velocidade que outras meninas passam a ter desmaios, convulsões e tiques nervosos, deixando os médicos intrigados e os pais apavorados. Os ataques seriam efeito colateral de uma vacina contra HPV? Envoltos em teorias e especulações, o pânico rapidamente se alastra pela escola e pela cidade, ameaçando a frágil sensação de segurança daquelas pessoas, que não conseguem compreender a causa da doença terrível e misteriosa.

Editora: Intrínseca l 272 Páginas l Suspense l Compare: SubmarinoSaraivaAmazon l Skoob l Classificação: 3,5/5

 

A narrativa de A Febre seguiu um rumo completamente diferente do qual imaginei. A sinopse da história foca no misterioso caso de garotas que, em um surto inexplicável, começam a apresentar sintomas semelhantes: convulsões, dores de cabeça, perda de memória, medo, mania de perseguição, inquietação e muitos outros. A especulação parece girar em torno do que está afetando essas jovens – já que os laudos médicos não encontram uma conclusão lógica. Entretanto, por mais que a trama foque nesse misterioso acontecimento, sinto que a verdadeira mensagem do livro está na abordagem das relações tipicamente juvenis, ou melhor, em como os relacionamentos afetivos podem modificar e nublar as escolhas de um jovem. Por isso A Febre recebeu comparações com o aclamado “Garota Exemplar”, porque a obra vai além do mistério ao descrever dramas dolorosamente reais que, infelizmente, acompanham o desenvolvimento dos adolescentes da atualidade.

Será que pareço diferente? Então se lembrou de ter se perguntado a mesma coisa dois dias antes. Como saber, se as coisas não param de acontecer, provavelmente deixando marcas de formas que não conseguimos enxergar?

A obra conta com três narradores, ambos da mesma família: Deenie, jovem de dezesseis anos; Eli, irmão mais velho de Deenie; e Tom, o pai da jovem protagonista. Os três estão envolvidos no ambiente escolar onde os surtos começam a afetar algumas garotas – Tom como professor e seus filhos como alunos. O bacana da narrativa intercalada é que ela dá uma visão geral da temida febre. Como garota, Deenie vê uma por uma de suas amigas e colegas de escola serem afetadas por sintomas confusos e dolorosos. É horrível ver através dos seus olhos a dor que ela sente por não poder ajudá-las, a confusão de não entender o que está acontecendo, o medo de talvez ser a próxima, e a culpa de imaginar inúmeros motivos que possam ter levado ao início da febre: – Será que Deenie e as amigas estão passando por isso por terem tomado a vacina contra a HPV? Ou talvez por terem entrado no misterioso lago da cidade? Ou talvez o surto tenha relação com seus últimos namoros? Já a visão de Eli dá o panorama dos garotos da escola, mostrando o quanto alguns estão preocupados com as meninas afetadas enquanto outros só sabem aproveitar e caçoar do momento, disseminando o acontecimento através das redes sociais e compartilhando vídeos e fotos das meninas no ápice da febre. E Tom, como pai e responsável, mostra o quanto os pais das garotas estão apavorados. Afinal, se algo assim começasse a acontecer na sua cidade ou/e se você tivesse uma filha adolescente… Você conseguiria dormir sem saber como e, principalmente, do que protegê-la? Ver Tom e todos os pais desesperados, sem saber como agir ou o que fazer, e muitas vezes tomando decisões impensadas por causa do medo, mostra como nós somos completamente vulneráveis..

A parte do mistério do livro é realmente incrível. Demorei um pouco para entender o ponto da autora, mas quando tudo ficou claro, pensei: UAU. Como disse a grande questão da história está na reflexão social por trás do surto, nos motivos aleatórios que influenciaram na desestabilização dessas garotas. A Febre é reflete muitas coisas, as quais nos ajudam a pensar sobre: sexo precoce, mentiras, drogas e pais descuidados que não percebem o quanto suas atitudes podem influenciar negativamente seus filhos. Neste ponto saliento a posição de Tom como narrador. Ele é pai separado, passou por momentos difíceis, mas julga seus filhos de forma extremamente despreocupada. Depois do abandono da mulher ele criou um laço de dependência com Deenie; ele quer agradá-la então faz praticamente tudo o que ela quer. Enquanto com Eli ele só vê os sinais exteriores, não sabendo quase nada do que realmente diz respeito ao filho. E isso é apenas uma das infinitas reflexões que o livro, e consequentemente a tal febre, nos leva a fazer. Definitivamente adorei esse ponto.

O único problema da obra é que a narrativa é descritiva e extremamente lenta. O mistério em si demora para ser desenvolvido, portanto são páginas e mais páginas sem entendermos muito bem o sentido da história. Até porque, somente quando o mistério engrena é que a lógica por trás da narrativa vem à tona – mesmo momento em que não conseguimos desgrudar das páginas do livro. Portanto o suspense da história é bom, as reflexões sociais presentes na trama são importantes e verdadeiras, e o desfecho segue uma linha racional que me agradou bastante. Contudo, penso que a escrita poderia ser mais fluída em certos pontos para que a obra não ficasse maçante. Também acho que faltou algo, talvez um choque maior de realidade ou uma mudança drástica em certos personagens, para que a leitura fosse tão magnânima quanto prometeu ser. Porém, não nego que gostei da história e que refleti muito com ela – não é segredo que adoro livros capazes de abordar temas polêmicos e reais.

Coisas ruins acontecem e acabam, mas onde vão parar? Elas ficam com a gente para sempre, como parasitas sob a pele?

E para os que perguntam se a leitura vale a pena… Vale sim. O livro tem seus altos e baixos, mas a mensagem por trás do mistério compensa parte das falhas.

Curiosidades

A trama do livro foi inspirada em um acontecimento real, ocorrido no estado de Nova York, em 2012.

A obra foi eleita como Livro do Ano pelo Strand Critics Award e apontada entre os finalistas do prestigioso Folio Prize e os melhores do ano da Amazon.

A produtora da atriz Sarah Jessica Parker vai lançar uma série no canal MTV baseada no livro e produzida por Karen Rosenfelt, de A Menina Que Roubava Livros, O Diabo Veste Prada e Crepúsculo.

Beijos!

 
 

 

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23 Comentários

  • Três Livrólatras
    04 novembro, 2015

    Adorei! Já esta anotado para minha lista!

  • Andréa Fundo Falso
    03 novembro, 2015

    Olá Paola!!

    Fazia um tempinho que não vinha aqui ler suas resenhas, e não me lembrava de como você escreve maravilhosamente bem!!

    Ele livro desde o lançamento é uma incógnita para mim! Não entendia a que ele se referia, e agora com sua resenha ficou bem claro. Eu adoro esse tipo de leitura, mas a narrativa me preocupa… Demoro muito a ler livros assim…

    Bjus!
    Blog Fundo Falso

  • Naty Araújo
    01 novembro, 2015

    Muito decepcionante quando a obra toma um rumo diferente do que imaginávamos e esse diferente não nos agrada tanto quanto poderia. Mas mesmo assim fiquei interessada pela leitura

  • Micheli Pegoraro
    31 outubro, 2015

    Oi Pah,
    Que livro interessante! Fiquei muito intrigada para descobrir a razão desse misterioso fenômeno, por que gosto de um bom suspense. A pesar de saber que o livro tem seus pontos baixos, que em algumas partes se torna cansativo a leitura, vou dar uma chance, pois como você, gosto de livros que abordam temas polêmicos e reais, e a mensagem que a história passa compensa sim a leitura.
    Beijos

  • Leticia Golz
    31 outubro, 2015

    Oi, Pah
    Quero tanto esse livro! Espero que eu consiga encarrar essas partes mais descritivas. Ai, é tão ruim quando a narrativa fica parada, estava com bastante expectativa para esse livro.
    Mas vou tentar me animar com as partes positivas e esse mistério que envolve o livro. Não sabia dessas curiosidade sobre ele.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

  • Mayara Coradini
    31 outubro, 2015

    Olá!!
    Gosto bastante de suspense e A Febre parece ser muito envolvente. Adoro narrativa intercalada temos visões diferentes sobre o mistério e drama envolvendo as meninas. Fiquei bem interessada pelo livro, quero muito ler. Sem mencionar que a capa é super convidativa.
    Bjos e sucesso!!

  • Patrini Viero
    31 outubro, 2015

    Esse livro me despertou interesse desde quando eu o vi entre os lançamentos da editora e li sua sinopse. A aura misteriosa que o envolve, e os acontecimentos inusitados que são seu ponto central me deixaram extremamente curiosa por resolver esse mistério. A construção das personagens me pareceu bastante complexa, e as explicações lógicas ao extremo. A narrativa descritiva pode até atrapalhar em algum ponto, como tu mesma disse, mas acredito que a densidade do livro e do enredo a supere.

  • kaka Valentim da Silva
    31 outubro, 2015

    Oi Pah !!Gostei da resenha adoro narrativa intercalada ,nao se vou gostar estou torcendo para eu gostar ,nao gosto muito de narrativa descritiva e extremamente lenta. To muito anciosa para desenvolver esse misterio .Gostei das curiosidades tchau!! Bjs!

  • Anne Viana
    31 outubro, 2015

    Vi vários comentários positivos qnd esse livro foi lançado e minha curiosidade pra ler só aumenta a cada dia!!!

    http://livroaoavesso.blogspot.com.br/

  • Evellyn Mendonça
    31 outubro, 2015

    Ooi Pah, fiquei bastante interessada para ler esse livro, me desanimei um pouco por saber que a narrativa é lenta, mas ainda quero ler.
    Bjs

  • Luciana Lole
    31 outubro, 2015

    Oii Pah, nunca li um livro nesse gênero, mas confesso que fiquei bem curiosa ao ler a resenha..vou colocar na lista também!
    Beijoss

  • Douglas Silva
    31 outubro, 2015

    Olá. posso lhe garantir que me apaixonei devido a capa de A Febre,imaginei que seria sobre suspense assim de cara e lhe garanto que acertei.essa historia da menina doente me fascinou,Bjs !

  • Rúbia Souza
    30 outubro, 2015

    Tipos de livros assim são os meus favoritos, que abordam temas tão impactantes e atuais mas com um suspense em torno. No mundo atual são assuntos bastantes discutidos e que giram em torno de uma sociedade corrida e que em muitos casos não dão a devida atenção e reflexão que merecem.

  • Anônimo
    30 outubro, 2015

    Oi Pah!
    Eu estou uma negação pra ler sinopses ultimamente e estou indo direto pra postagem… Só checo bem antes pra ver também se não é uma continuação de alguma série/coleção pra não pegar spoiler demais.
    Gostei muito da sua resenha e me interessei pela narrativa. É impressionante como alguns autores estão inovando o jeito de pegar alguns fatos, colocá-los em meio a situações diferentes e nos surpreender em como essas coisas, antes não tão parecidas, podem se completar. Fiquei realmente interessada nessa livro.
    Abraços! | Blog Saphy | Facebook

  • Cailes Sales
    30 outubro, 2015

    Oi Pah! Quando li a sinopse desse livro pensei que seria um thriller, um suspense, não imaginava que todo o mistério serviria de pano de fundo para outras discussões e reflexões, achei interessante, mas na verdade tinha uma ideia diferente da história. Enfim, penso que vale a leitura, pois mesmo não sendo o que pensei, gostei do que vc descreveu sobre história *-*

  • Veronica Vieira
    30 outubro, 2015

    Ja tinha ficado curiosa por esse livro,principalmente pelo fato de ser baseado em fatos reais, mas ao ver sua noto fiquei com um pouquinho de medo de me decepcionar…

  • Larissa Belmok
    30 outubro, 2015

    Já ouvi falar muito sobre esse livro mas confesso que nunca me despertou o interesse em iniciar a leitura.
    A capa é diferente e acaba chamando atenção, mas lamento ainda assim não me dar vontade de ler.
    E com narrativa lenta me desanima mais ainda.
    Beijinhos!!!

    Veem participar da promoção de fim de ano do meu blog!!
    http://obcecadapeloslivros.blogspot.com.br/

  • Clara
    30 outubro, 2015

    Oi, Pah!
    Eu gosto de dramas, mas sinceramente, ultimamente tô precisando de livros dinâmicos!
    Você tem resenhas maravilhosas!

    Clara
    @clarabsantos
    clarabeatrizsantos.blogspot.com.br

  • Aciclea vieira
    30 outubro, 2015

    Paola,quando li a premissa desse livro confesso que ficou curiosa para descobrir o que realmente está acontecendo com as pessoas ,que convulsão é essa.Mas ao ler a resenha pude observar que o foco é bem outro.Legal a obra ter três narradores.Realmente quando vemos alguém sofrendo sem podermos fazer nada a dor é muito grande ,acho que isso que a Deenie sente sem poder fazer nada.Legal o livro apontar o quanto o ser humano.nós somos vulneráveis.Legal que o mistério do livro seja incrível.Pena a narrativa ser descritiva e lenta.Mas,ainda bem que gostou da história e refletiu com ela.Amei as curiosidades da obra e saber que foi inspirada em um acontecimento real.Mil beijinhos!!!!

  • Maria Luiza
    29 outubro, 2015

    Ja ouvi falar desse livro, mas não com muita intensidade. Pela sinopse e pela capa com certeza já entrou pra minha lista de leitura 🙂

    http://somaisumapaginamae.blogspot.com.br

  • Crika Regina
    29 outubro, 2015

    Oi Pah!
    Fiquei meio desanimada com vc dizendo que a narrativa é descritiva e extremamente lenta pq eu detesto qnd acontece isso, rs. E eu não sabia que a trama tinha sido inspirada num acontecimento real em NY, interessante. Bom, não vou investir nele agora, quem sabe mais pra frente?! rsrs

  • Ycaro Brito
    29 outubro, 2015

    Hello, Pah. Confesso que me interessei por esta capa de A Febre, logo imaginei uma história de horror e suspense. Então, conclui que acertei em partes, pois a premissa do livro encantou-me bastante, toda esta história envolta da garota que sofre uma convulsão, e todas as outras a seguir, me fascinou de uma forma incrível. Estou louco pela leitura!

  • Curtindo os Livros Adoidada
    29 outubro, 2015

    Gostei da mensagem passada pelo livro, meus pais não são separados, mas uma grande amiga minha cresceu em duas casas, e sei bem como foi difícil para ela. Mas hoje, como mãe, e podendo passar por isso um dia, consigo ver o outro lado.