Na Escola Secundária de Dryden, Deenie, Lise e Gabby formam um trio inseparável. Filha do professor de química e irmã de um popular jogador de hóquei da escola, Deenie irradia a vulnerabilidade de uma típica adolescente de 16 anos. Quando Lise sofre uma inexplicável e violenta convulsão no meio de uma aula, ninguém sabe como reagir. Os boatos começam a se espalhar na mesma velocidade que outras meninas passam a ter desmaios, convulsões e tiques nervosos, deixando os médicos intrigados e os pais apavorados. Os ataques seriam efeito colateral de uma vacina contra HPV? Envoltos em teorias e especulações, o pânico rapidamente se alastra pela escola e pela cidade, ameaçando a frágil sensação de segurança daquelas pessoas, que não conseguem compreender a causa da doença terrível e misteriosa.
Editora: Intrínseca l 272 Páginas l Suspense l Compare: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 3,5/5
A narrativa de A Febre seguiu um rumo completamente diferente do qual imaginei. A sinopse da história foca no misterioso caso de garotas que, em um surto inexplicável, começam a apresentar sintomas semelhantes: convulsões, dores de cabeça, perda de memória, medo, mania de perseguição, inquietação e muitos outros. A especulação parece girar em torno do que está afetando essas jovens – já que os laudos médicos não encontram uma conclusão lógica. Entretanto, por mais que a trama foque nesse misterioso acontecimento, sinto que a verdadeira mensagem do livro está na abordagem das relações tipicamente juvenis, ou melhor, em como os relacionamentos afetivos podem modificar e nublar as escolhas de um jovem. Por isso A Febre recebeu comparações com o aclamado “Garota Exemplar”, porque a obra vai além do mistério ao descrever dramas dolorosamente reais que, infelizmente, acompanham o desenvolvimento dos adolescentes da atualidade.
Será que pareço diferente? Então se lembrou de ter se perguntado a mesma coisa dois dias antes. Como saber, se as coisas não param de acontecer, provavelmente deixando marcas de formas que não conseguimos enxergar?
A obra conta com três narradores, ambos da mesma família: Deenie, jovem de dezesseis anos; Eli, irmão mais velho de Deenie; e Tom, o pai da jovem protagonista. Os três estão envolvidos no ambiente escolar onde os surtos começam a afetar algumas garotas – Tom como professor e seus filhos como alunos. O bacana da narrativa intercalada é que ela dá uma visão geral da temida febre. Como garota, Deenie vê uma por uma de suas amigas e colegas de escola serem afetadas por sintomas confusos e dolorosos. É horrível ver através dos seus olhos a dor que ela sente por não poder ajudá-las, a confusão de não entender o que está acontecendo, o medo de talvez ser a próxima, e a culpa de imaginar inúmeros motivos que possam ter levado ao início da febre: – Será que Deenie e as amigas estão passando por isso por terem tomado a vacina contra a HPV? Ou talvez por terem entrado no misterioso lago da cidade? Ou talvez o surto tenha relação com seus últimos namoros? Já a visão de Eli dá o panorama dos garotos da escola, mostrando o quanto alguns estão preocupados com as meninas afetadas enquanto outros só sabem aproveitar e caçoar do momento, disseminando o acontecimento através das redes sociais e compartilhando vídeos e fotos das meninas no ápice da febre. E Tom, como pai e responsável, mostra o quanto os pais das garotas estão apavorados. Afinal, se algo assim começasse a acontecer na sua cidade ou/e se você tivesse uma filha adolescente… Você conseguiria dormir sem saber como e, principalmente, do que protegê-la? Ver Tom e todos os pais desesperados, sem saber como agir ou o que fazer, e muitas vezes tomando decisões impensadas por causa do medo, mostra como nós somos completamente vulneráveis..
A parte do mistério do livro é realmente incrível. Demorei um pouco para entender o ponto da autora, mas quando tudo ficou claro, pensei: UAU. Como disse a grande questão da história está na reflexão social por trás do surto, nos motivos aleatórios que influenciaram na desestabilização dessas garotas. A Febre é reflete muitas coisas, as quais nos ajudam a pensar sobre: sexo precoce, mentiras, drogas e pais descuidados que não percebem o quanto suas atitudes podem influenciar negativamente seus filhos. Neste ponto saliento a posição de Tom como narrador. Ele é pai separado, passou por momentos difíceis, mas julga seus filhos de forma extremamente despreocupada. Depois do abandono da mulher ele criou um laço de dependência com Deenie; ele quer agradá-la então faz praticamente tudo o que ela quer. Enquanto com Eli ele só vê os sinais exteriores, não sabendo quase nada do que realmente diz respeito ao filho. E isso é apenas uma das infinitas reflexões que o livro, e consequentemente a tal febre, nos leva a fazer. Definitivamente adorei esse ponto.
O único problema da obra é que a narrativa é descritiva e extremamente lenta. O mistério em si demora para ser desenvolvido, portanto são páginas e mais páginas sem entendermos muito bem o sentido da história. Até porque, somente quando o mistério engrena é que a lógica por trás da narrativa vem à tona – mesmo momento em que não conseguimos desgrudar das páginas do livro. Portanto o suspense da história é bom, as reflexões sociais presentes na trama são importantes e verdadeiras, e o desfecho segue uma linha racional que me agradou bastante. Contudo, penso que a escrita poderia ser mais fluída em certos pontos para que a obra não ficasse maçante. Também acho que faltou algo, talvez um choque maior de realidade ou uma mudança drástica em certos personagens, para que a leitura fosse tão magnânima quanto prometeu ser. Porém, não nego que gostei da história e que refleti muito com ela – não é segredo que adoro livros capazes de abordar temas polêmicos e reais.
Coisas ruins acontecem e acabam, mas onde vão parar? Elas ficam com a gente para sempre, como parasitas sob a pele?
E para os que perguntam se a leitura vale a pena… Vale sim. O livro tem seus altos e baixos, mas a mensagem por trás do mistério compensa parte das falhas.
Curiosidades
A trama do livro foi inspirada em um acontecimento real, ocorrido no estado de Nova York, em 2012.
A obra foi eleita como Livro do Ano pelo Strand Critics Award e apontada entre os finalistas do prestigioso Folio Prize e os melhores do ano da Amazon.
A produtora da atriz Sarah Jessica Parker vai lançar uma série no canal MTV baseada no livro e produzida por Karen Rosenfelt, de A Menina Que Roubava Livros, O Diabo Veste Prada e Crepúsculo.
Beijos!
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